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Depoimento
'Entre uma garfada e outra, fomos ficando mais íntimos'
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BERLIMEra para ser um piquenique. A chuva que castigou Berlim naquele domingo, porém, impossibilitou a ideia da minha anfitriã, a espanhola Ainara Del Valle, 32, de reunir pessoas no Volkspark, no antigo lado oriental da capital alemã. Em vez de tomar chuva no parque, ela abriria seu apartamento.
Dadas as instruções de como chegar, ela amarrou na saída da estação de metrô mais próxima balões vermelhos, em forma de corações, para indicar o melhor caminho.
Ainara tinha proposto que cada um levasse um prato para compartilhar. Ela, como boa espanhola, cozinharia tortillas e deixou as opções abertas à imaginação --e aos dotes culinários-- dos estranhos que invadiriam sua casa. Como sou um desastre na cozinha, optei pelo caminho mais fácil: comprei vinho branco e sorvete de chocolate --opções que, esperava eu, agradariam a gregos e troianos.
No começo, as conversas pareciam um pouco forçadas, como se a situação exigisse uma simpatia exagerada de cada uma de nós.
Na falta de assunto, nos apoiamos no bom e velho papo sobre o tempo --como era triste que, em pleno verão alemão, as poucas horas de sol anuais tinham dado lugar à chuva que não parava.
No entanto, quando outras duas meninas chegaram, ambas da Alemanha, trazendo uma tradicional salada de batatas, e a comida começou a ser servida, relaxamos. Foi como se, entre uma garfada e outra, nós nos tornássemos cada vez mais íntimos.
Ao todo, 25 pessoas participaram do piquenique que virou almoço que se estendeu por toda a tarde.
Fiquei até o final para ajudar na limpeza, e saindo dali com novas amigas, já fazíamos planos para outro jantar nos mesmos moldes. (RM)
