Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Comida

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

... é na cozinha?

Apesar da exigência física e da dificuldade de conciliar trabalho e filhos, chefs dizem que cenário no Brasil é mais amistoso para mulheres do que no exterior

DE SÃO PAULO

Antes de abrir o Bar da Dona Onça, em São Paulo, Janaina Rueda nunca havia cozinhado profissionalmente. Previa que o empreendimento "não ia dar tanto trabalho".

Na primeira semana após a inauguração, em 2008, a impressão já tinha se desfeito. Rueda queimou a mão, se ralou --e até voltou para casa chorando. "Tive que pôr muito a mão no fogo até acostumar", conta a chef. "Mas, hoje, comando a cozinha com segurança", afirma.

A exigência física é uma característica da profissão de cozinheiro --mas o trabalho árduo não é empecilho para as mulheres, segundo Carla Pernambuco, do Carlota.

Se algumas não hesitam na hora de arregaçar as mangas, algumas também não se esquecem da "parte estética", como diz Renata Vanzetto.

"É um saco, nunca tive um namorado que não reclamou do fato de eu chegar cheirando a peixe e cebola" diz, rindo. O remédio, para ela, são dólmãs (uniformes) acinturados e faixas coloridas. "Não é porque sou chef que preciso estar desarrumada."

EM CASA

Segundo as chefs, outra dificuldade é, como em muitas profissões, conciliar o trabalho, a família e os filhos.

"Separo do meu marido, mas não da minha babá", diz Morena Leite, do Capim Santo. Para ela, a grande dificuldade que uma chef enfrenta na carreira é o momento de ter filhos. "Não conheço um cozinheiro que trabalhe menos de 14 horas por dia."

Para conciliar, é preciso trazer a filha para o restaurante aos sábados e domingos. Ali, na casa, "ela fica brincando no caixa", conta.

Manu Buffara, do Manu Restaurante, em Curitiba, pensa em ter filhos, mas não agora --afirma trabalhar 16 horas por dia. "Mas se a gente se vira na cozinha, consegue se virar para isso também", afirma a cozinheira.

A chef Ana Luiza Trajano trabalhou no seu Brasil a Gosto durante quase toda a gestação de seu primeiro filho. Quando o bebê nasceu, conta que voltou ao restaurante em 15 dias. Para isso, saía da cozinha de três em três horas para amamentar.

"Família é um prato difícil de preparar. Mas cada um pode construir sua própria receita", afirma Tereza Paim, que comanda os restaurantes Terreiro Bahia e a Casa de Tereza, ambos na Bahia.

JEITINHO BRASILEIRO

Chefs brasileiras acreditam que, no Brasil, o cenário é mais amistoso para mulheres na cozinha profissional do que em outros países.

"Lá fora, em especial na Europa, há mais homens nos restaurantes. No Brasil e em outros países da América Latina, sinto mais tranquilidade nos eventos dos quais participo", diz Morena Leite.

Helena Rizzo, do Maní, concorda. "No Brasil, temos uma expressão feminina muito forte, mais forte do que lá fora", disse, logo após ter sido eleita a melhor cozinheira do mundo em 2014.

A chef Renata Vanzetto fez estágio no Noma, restaurante dinamarquês que anteontem voltou ao topo da lista dos melhores do mundo.

Disse que se sentia "um peixe fora d'água" devido à ausência de mulheres --eram 50 cozinheiros. Ouviu dos colegas: "Eles falaram que as estagiárias ficavam três ou quatro dias e pediam para sair". (MARÍLIA MIRAGAIA)


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página