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Nina Horta

Mix de sabores

Adoro aquelas mesas antigas onde as frutas e os doces vinham misturados aos salgados

Não sei se acontece com vocês, mas eu pago língua de toda bobagem que falo. Quando o Ferran Adrià esteve aqui, da última vez, fiquei rindo dele por causa de umas afirmativas que fez na TV, de que agora, sem restaurante, poderia estudar os ingredientes a fundo e descobrir o que era realmente um tomate.

Acho que caçoei dele de inveja, não existe nada que eu mais queira do que um laboratório, um "taller" de marfim para inventar todas as loucuras do mundo sem fazer o cliente de cobaia.

Sempre gostei de frutas e sabores doces misturados à comida salgada. Adoro aquelas mesas antigas onde as frutas e os doces vinham misturados aos salgados, além de achar bonito aqueles "epergnes" de cristal e prata se elevando no meio da mesa. Desconfio de que esse gosto que parece exótico venha da infância, da banana cortada em rodelas no meio do prato de arroz com feijão. Gosto e pronto.

No primeiro dia que a Tailândia me apresentou arroz com manga, lichia ao curry, porco com laranja-lima me apaixonei à primeira vista e fiz dessas misturas o meu trivial. E me surpreendi agradavelmente ao saber, no outro dia mesmo, que os baianos gostam de sua feijoada acompanhada por melancia gelada, ato afoito e corajoso.

E já ia me esquecendo dos primeiros restaurantes chineses em São Paulo com seus pratos agridoces que faziam a minha alegria de menina. Detesto é o exagero de mais que um prato agridoce na mesma refeição, mas não refugo os chutneys indianos ali, ao lado do arroz e dos bolinhos o tempo todo, às minhas ordens.

Acho que fui a primeira a usar o caqui duro acompanhando o presunto cru, e há mais de 20 anos sirvo os morangos com uma pimentinha vermelha picada, e há outros tantos faço um sanduíche de chocolate com pimenta. Juro que muito antes de aparecerem os chocolates apimentados nas suas caixas chiques.

Ultimamente ando tendo experiências agradáveis, frutos de um regime. Os ingredientes vem para mim no prato, mas separados em cumbucas, porque não são pratos compostos, mas ingredientes, mesmo. Ontem, eu tinha num pratão um caqui, uma tigela de abóbora desfiada, cozida, quente, bem apimentada, outra de queijo cottage, outro de pipoca.

Ah, vocês não sabem o que se pode fazer quando a fome aperta. Tenho medo de contar aqui e vocês acharem que perdi o paladar. Faço o desafio contrário. Ponham vocês, nos seus pratos o que haja de comidas diferentes e tentem ir, conforme a intuição, misturando as coisas. A pipoca estava salgada e depois de um punhado era uma delícia um bocado de caqui doce escorrendo pela garganta um pouco irritada pelo sal. A abóbora macia e apimentada, neutra, quente, ia bem com o queijo frio sobre a torrada.

Meninos, nada como um regime para a gente se sentir a mais criativa das mulheres, viramos um Achatz, um Ferran, é preciso só ter cuidado, repetir o que estava bom mesmo, elaborar um pouco, apresentar de um modo bonito e, em dois tempos, estaremos rivalizando com o Atala, com o Noma, com Maní... Ai, o que uma gorda pode fazer para amenizar o seu regime...

ninahorta@uol.com.br


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