Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Comida

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Nina Horta

Fruta feia

No outro dia, vi na TV um agricultor todo feliz vendendo bananas feias e orgânicas

Mas o que é uma moda? Uma força que leva para a frente, aumentando o conhecimento do que é boa comida, ou simplesmente alguma coisa que passa e não deixa rastro?

Quem consegue fazer alguma coisa entrar na moda? O que as modas têm em comum? Quem é capaz de adivinhar a moda? Por exemplo, cupcakes, cupcakes, cupcakes.

Juro que, quando uma das primeiras pessoas que abriu uma loja de cupcakes me convidou para ir lá, morri de pena dela.

O que estava passando pela cabeça daquela menina? Cupcakes... Uma coisa antiga, ruim, engordativa, quem se daria ao trabalho de sair de casa para comer um bolinho massudo e doce demais?

A moda começou com o seriado "Sex in the City", quando Carrie morde um cupcake ao avisar às amigas que estava se apaixonando. Ao rever a cena ninguém acredita que tem menos que 20 segundos!!!

Com o sucesso da série, uma firma de tours de ônibus percorre o caminho das lojas que as três mulheres frequentaram, em Nova York, e passam pelo café Magnolia, lugar do cupcake. As fãs se descabelam, voltam para suas cidades e contam que comeram o famoso cupcake da Carrie. Abrem lojinhas. Logo depois, veio o 11 de Setembro, quando os americanos precisaram de comidas conhecidas, que confortassem, comida de alma. E daí o bolinho pegou de vez.

Quantas coisas como essas passaram por nossas vidas e nossos menus. O fondue, o creme de papaya com cassis, a quiche, o petit gâteau, o amor aos pedaços e, mais próximos, as brigaderias, os bolos que passam de amor aos pedaços, fondants, a naked, a simples...

Do lado salgado, sushi, ceviche...

Leiam "Armas, Germe e Aço", de Jared Diamond, que diz que a força da civilização eurasiana e o domínio contínuo sobre as civilizações do hemisfério Sul foi devido às modas de comida que começaram nos primórdios da agricultura. Os que tinham o melhor grão tinham mais força, cresciam mais e podiam se dedicar a outras coisas como educação, novas técnicas etc.

Arroz arbóreo, arroz negro, germe de trigo, arroz vermelho, quinua, chia, farro...

Hoje, mais que pratos diferentes, estão na moda os movimentos. A procura de ingredientes exóticos, as plantas alimentícias não convencionais, o que pensávamos que não se podia comer, mas que se pode, matinhos jamais pensados. Mas a mania geral é a do orgânico.

Gostei do movimento Fruta Feia, bem ao estilo português objetivo, sem firulas. A ideia é ir contra o desperdício de frutas e legumes e verduras fora do padrão exigido, feios mesmo. No outro dia, vi na TV um agricultor todo feliz vendendo bananas feias e orgânicas. Havia parado de lidar com seu bananal pois todas as frutas tinham que ter um tamanho certo e, como não conseguia realizar o milagre da padronização, jogava fora mais do que a metade da colheita.

Pois agora planta como sempre havia plantado e consegue seu lucro pois são orgânicas! E feias. O movimento português Fruta Feia é isso. Que compremos o que não deu muito certo, a cenoura torta, a laranja manchada, a couve-flor de folhas amareladas. Mais baratas. Agora, o novo sucesso é a fruta feia.

ninahorta@uol.com.br

Leia o blog da colunista
ninahorta.blogfolha.uol.com.br


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página