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Nina Horta

O homem que comeu o mundo

Quanto podemos aprender sobre o mundo em que vivemos por meio da comida que chega ao nosso prato?

JAY RAYNER é o crítico de comida do "Observer", de Londres. Começou nos 90, quando Londres e o mundo já haviam redesenhado o mapa dos restaurantes famosos. E ele tinha a impressão, grudada no fundo de sua consciência, de que em algum lugar do mundo existia a melhor comida. E de que ele poderia achá-la se se esforçasse muito.

Durante o dia ia aos restaurantes e, à noite, lia blogs. Adorava os blogs de Steve Plotnicki, um nova-iorquino milionário que frequentava todos os restaurantes sempre levando uma garrafa de vinho de sua adega, mesmo que estivesse num boteco vagabundo. E o blog "Chez Pim", da tailandesa Pim Techamuanvivit, por causa das suas receitas complicadas das ruas de Bancoc e dos menus parisienses que ela também postava depois de visitas.

Quanto mais ele se empenhava, mais reconhecia que o mundo havia mudado. Primeiro era só Paris. Se queria comer bem era em Paris, uma cidade inteira confiante na sua capacidade de oferecer a melhor comida do mundo.

O fim da Guerra Fria, segundo ele, mudou tudo. "Uma nova classe intercontinental, cheia de dinheiro, se formava -não só na Europa ou nos Estados Unidos mas também na Rússia, na China, no Oriente Médio e no Japão. A nova tribo desenvolvera um gosto por símbolos da sua afluência, menos tangíveis do que o iate imenso e o carrão. Queriam estilo de vida. Experiências, hotéis, spas e... restaurantes." A gastronomia se globalizara.

Muitos outros críticos haviam chegado à conclusão de que a boa vida não estava nesses restaurantes de luxo. Estava na autenticidade, no pequeno restaurante dos caminhoneiros de estrada, na pousada à beira do riacho onde saltavam as trutas. Na mesa do camponês que chegava do trabalho de ordenhar as vacas. Jay Rayner suspeitava da autenticidade e da simplicidade total. Para ele, havia algo de errado naqueles que achavam que a boa comida estava dentro dos estilos de vida dos muito pobres, que esse modo de comer era mais autêntico do que aquele de quem tinha um liquidificador e outras bobagens como eletricidade e água boa para beber.

Jay Rayner tinha até vergonha de pensar assim, sabia que, como escritor, precisava ter um elo com o camponês desdentado. Mas latejava nele, como crítico de restaurantes um plutocrata de dentes brilhantes. Ele queria saber o que comiam os ricos, muito ricos.

E queria se justificar daquela vida que levava de ganhar dinheiro comendo. Sair pelo mundo procurando respostas poderia ser uma redenção. E quem sabe encontraria respostas para as perguntas que as pessoas se fazem incessantemente.

A cozinha é uma arte? Quanto podemos aprender sobre o mundo em que vivemos por meio da comida que chega ao nosso prato? É moral comer enquanto outros passam fome? A globalização ameaça extinguir a chama da criatividade que por tanto tempo ardeu no peito dos chefs?

Daí começou a peregrinação virtuosa. Las Vegas, Moscou, Dubai, Tóquio, NY, Londres e Paris. Viaje com ele. Além de tudo é engraçado. O nome é "The Man Who Ate The World", Jay Rayner (ed. Headline Review). Dou mais detalhes no blog.


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