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Nina Horta

Tomates, flashes vermelhos

Não que eu os odeie, mas, na minha cabeça, os tomates deveriam ser mais gostosos

Tomates. Lembro da primeira vergonha que passei na escola, chegada do Rio e falando "burracha" e "tumate". Acho que nunca gostei muito de tomate, talvez pelo trauma. Não que os odeie, mas, na minha cabeça, deveriam ser mais gostosos.

Nem paro muito para pensar neles, não conheço os nomes. Sei que uma vez por ano, muito maduros, servem para um molho que faço para massas, com bastante alho e azeite, sem um pingo d'água. E os tomates têm que ser completamente maduros, senão estragam tudo.

Detesto quando a pizza está encharcada de molho ou quando as panquecas caseiras nem deixam ver sua pele bege. Há que ter cuidado. Bem pouco molho, por favor!

Claro que não resisto aos pequeninos, que se encontram no pasto, na frente da casa de Paraty ou em qualquer lugar, súbitos, de presente, estalando na boca. E o cheiro de tomate pisado, meu Deus, não tem igual.

Depois que apareceram os tomates-cereja, cada um de uma cor, acho graça neles, especialmente para a salada. Acho graça. Gostosos mesmo, não os acho.

Da infância, brotam dois sanduíches. Um de pão de fôrma branco, com tomates e maionese feita em casa. Sanduíche para não botar defeito, principalmente em madrugadas famintas. E, numa frigideira bem pequena, tomates e queijo, até que o tomate se desmanche, e o queijo comece a queimar nas beiradas.

Prometi à minha cunhada uma receita de lasanha que ela própria fez há uns 30 anos e da qual nunca me esqueci. Quando dei com quatro páginas em letra miúda, não sei se ela vai querer repetir a dose. Lasanha é tida como brega. Brega quando é ruim e quase todas são porque ninguém faz mais desde a massa até a carninha com fígado de frango.

E os tomates, então, precisam ser tão bons que acho que só existem bem pequeninos, no Peru, onde nasceram. Pois não tem gente que vai ao Peru e fica perdido por trilhas procurando esse "Ur-tomate", que misturado às sementes dos que temos daria um sabor diferente, nada azedo, só um pouquinho de doce com outro pouco de ácido? E o cheiro, bingo, o que falta no tomate é o cheiro! Perdemos o cheiro!

Na Inglaterra, toda velhinha que vai ao museu, no frio, depois se senta no restaurante e pede sopa de tomate quente, que pinga no xale.

Ah, mas a única sopa fria que brasileiro aguenta é gaspacho. Sempre pedi suco de tomate temperado nas boates de outrora, questão de regime, e, quando o garçom vinha chegando com ele, me arrependia totalmente, pedia que cobrasse e que me trouxesse uma vodca bem gelada.

Conheço uma Leila que tempera suco tão bem que você pode passar a noite tomando copos. É bom durante uma festa pancada, daquelas de casamento de 500 pessoas, em que tomar vodca seria impensável, mas o suco da Leila, esse é demais.

Lembro de uma vez que vi um alemãozinho muito louro tirando da lancheira um tomate inteiro, puro, e mordendo-o com grande prazer. São flashes da vida que não se sabe por que nunca mais se esquece.

Bem, já viram que de tomate entendo pouco, quiçá nada, e é atrás deles que vou, fazer uma pesquisa, saber onde são cultivados, se é verdade o quanto de veneno que carregam para crescer. Ainda mais essa!


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