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Invasão de hotel foi por 'Ibope', diz cacique

Estabelecimento de luxo foi a 47ª propriedade invadida pelos índios tupinambás desde fevereiro do ano passado

Dono do Fazenda da Lagoa, no sul da Bahia, fechado por passivo ambiental, relata danos e saque de roupas e TVs

(NELSON BARROS NETO) ENVIADO ESPECIAL A UNA E A ILHÉUS

"Excuse me, please", disse o cacique Val Tupinambá, 35, ao pegar o telefone do escritório da Funai (Fundação Nacional do Índio), no centro antigo de Ilhéus (BA), para fazer ligações a políticos.

Era tarde da última quinta-feira e ele pedia passagens aéreas para viajar a Brasília.

Quatro dias antes, havia comandado a invasão de 70 tupinambás a um hotel de luxo na vizinha Una, no sul da Bahia, com praia privativa e diárias acima de R$ 1.000.

Apesar dos telefonemas, Val (ou Valdenilson Oliveira dos Santos) ficou sem passagens, já que não prestou contas de uma viagem anterior.

Candidato derrotado a vereador nas últimas duas eleições (primeiro pelo PC do B e depois pelo PDT), ele vestia calça jeans e camiseta da grife Osklen, marca que mantém uma loja no hotel invadido.

Ainda no escritório da Funai, repetia que precisava checar os e-mails e, pelo celular, pedia aos tupinambás que se preparassem com seus "adereços" para a visita da Folha à tribo naquela noite.

Val brinca: "Está tudo índio". Ele é professor de uma escola indígena e dono de um restaurante de beira de estrada no qual uma moqueca de peixe sai por R$ 15.

Diante da reportagem, os telefonemas continuam. Num deles explica o motivo da invasão ao hotel de luxo.

"A ocupação foi para dar uns Ibope, né, para ver se o ministro [da Justiça] nos recebia", disse. "Mas não foi aquela farra que ficou parecendo, viu?", completou.

Os indígenas pedem pressa ao governo federal no processo de demarcação de uma terra indígena na região. A invasão ocorreu justamente para chamar a atenção do Planalto à demanda.

Na região de Ilhéus vivem cerca de 8.000 tupinambás.

"Ainda estamos contabilizando os prejuízos. Houve saques de bebidas alcoólicas, roupas, duas pranchas de surfe e oito TVs, além de danos a estruturas físicas do empreendimento", diz Arthur Bahia, sócio do hotel.

HOTEL SEM LICENÇA

Desocupado na última quarta-feira, o hotel está fechado desde meados do ano passado. "Ele fica dentro de uma unidade de conservação, e eles [proprietários] não possuem licença ambiental do Ibama", diz Paulo Cruz, do Instituto Chico Mendes, órgão do governo federal responsável pelo embargo.

Embora a Garça Azul Empreendimentos Turísticos e Imobiliários --controladora do hotel-- tenha depois solicitado a licença federal, o órgão diz que o processo está sob análise técnica, sem prazo definido para conclusão.

"Eles estão numa área sensível, sim, que tem manguezal, restinga, praia", afirma Cruz". A empresa diz não há passivo ambiental.

A operação do hotel vinha acontecendo graças a uma licença de funcionamento do município de Una. A prefeita, Diane Rusciolelli (PSD), diz que trabalha pela reabertura do hotel, que "emprega 30 habitantes".

A empresa que administra o hotel diz que não há passivo ambiental e que só aguarda a liberação da licença.

DE ÔNIBUS

Sem passagem aérea, Val seguirá de ônibus para a capital federal, numa viagem de um dia e meio. Ele acredita que, na próxima sexta, o Ministério da Justiça concederá a demarcação das terras.

"Seremos donos de direito, e os fazendeiros serão indenizados", afirma o cacique.

Antes da viagem, na tribo, um ritual com danças e cantos para a reportagem: "Quem fala mal da gente, a gente corta a língua e arranca os dentes". Em seguida: "É Deus no céu e os índios na terra".Bem


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