Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Ex-gay

'Nunca tive prazer com outro homem'

DE SÃO PAULO

Na década de 1980, Ney Matogrosso cantava: "Telma, eu não sou gay/O que falam de mim são calúnias, meu bem, eu parei". Fransérgio Araújo também parou. Diz ele: "Sou um ex-gay".

Não se trata aqui de mandinga, pílula mágica ou de um trabalho de cura feito por "psicólogos" ou pastores.

Na verdade, Araújo conta que provou e não gostou --dos dois lados da "fruta". "Sempre fui hétero, mas, ao longo de minha vida, aconteceram algumas relações esporádicas gays", afirma.

Araújo estava com 11 anos quando teve sua primeira "brincadeira". Chiquinho era um cabeleireiro famoso de Uberlândia (MG), terra natal do garoto, onde sua mãe trabalhava. Foi com ele a "estreia", numa sessão de "massagem íntima". Naquela época, vale o registro, a palavra "pedofilia" não fazia parte de seu dicionário, tampouco era familiar o seu significado.

Dois anos depois, outra "brincadeira de criança": troca-troca com um amigo no fundo do quintal. "Era um lance de descoberta", diz.

Para Araújo, talvez sim. Para o coleguinha, porém, é bom que se diga, foi um baita aprendizado: ele levou a coisa a sério. Virou gay.

"A figura do homem que me interessava era mais próxima da androginia, uma relação ligada ao gregos", conta Araújo, hoje ator, diretor e produtor teatral.

Como? "Tipo Morte em Veneza'", explica, referindo-se ao filme do cineasta italiano Luchino Visconti que mostra uma paixão perturbadora de um compositor mais velho por um adolescente.

Sobre as experiências gays, explica: "Não foi só sexo, mas um lance de sabedoria, aprendizado. Mesmo porque, em termos de sexo, nunca tive uma relação prazerosa com outro homem. Sempre achei evasiva, sem romantismo", diz. "Talvez por isso eu não tenha virado veado."

Araújo, 39, já foi casado com três mulheres. A primeira delas é mãe de seu único filho, hoje com 15 anos.

O ator lembra que perdeu a virgindade ainda adolescente, com uma mulher na faixa dos 30, num hotelzinho fuleiro de beira de rodoviária.

Araújo conta que tinha ido entregar umas fotos 3x4 tiradas pelo pai dele, fotógrafo conhecido em Uberlândia, quando foi "convidado para subir ao quinto andar". "Quando cheguei lá, ela me seduziu", gaba-se.

Aos 19 anos, passou a "traçar" as coroas da cidade.

Os gays voltaram a pintar em sua vida anos depois, mas tudo muito "passageiro".

Bonitão, elegante e cheio de charme, o ator mineiro sempre foi (e continua sendo) assediado tanto por homens quanto por mulheres.

"O mundo sem os gays seria mais burro e menos divertido", diz ele. "Agora, o que a gente precisa é parar com essa mania de rotular as pessoas de hétero, gay, bi."

Mesmo com esse discurso, Araújo faz questão de reafirmar sua heterossexualidade: "Meu barato sempre foram mesmo as mulheres". "Eu me masturbava espiando a vizinha pelo buraco da fechadura", lembra.

O ator conta que, desde os tempos de menino mineiro, costuma ser confundido com gay.

"Acho que tenho traços selvagens de caboclo, um jeito elegante de usar o corpo com sedução", diz ele, enquanto, diante do espelho do camarim, ajeita os cabelos para a sessão de fotos desta reportagem.

Exemplifica: "Como Caetano Veloso, David Bowie e Mick Jagger, que despertam muita curiosidade entre as mulheres. O homem precisa redescobrir sua identidade masculina". Ah! Entendi.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página