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Centro social para morador de rua provoca discórdia em Santa Cecília

Comerciantes e empresários engrossam abaixo-assinados para impedir instalação de unidade

Sobrado é vizinho a escolas e berçário; vizinhos dizem temer que lugar se torne 'filial da cracolândia'

ROBERTO DE OLIVEIRA DE SÃO PAULO

De um lado, moradores, comerciantes e empresários de Santa Cecília, região central de São Paulo. Do outro, moradores de rua. No centro, uma discórdia: o sobrado laranja, no número 44 da rua Imaculada Conceição.

O temor da vizinhança é que o imóvel se transforme na "mais nova filial da cracolândia" e traga para a arborizada e pequenina rua, de apenas 200 m, sujeira, drogas, tráfico e insegurança.

Até o final deste mês, o sobrado deve sediar o Centro Social Paulo 6º. Hoje, ele funciona a poucas quadras dali, ao lado da Paróquia Imaculado Coração de Maria, na rua Jaguaribe, 735, no mesmo bairro. Atende a famílias carentes e moradores de rua.

A transferência ganhou contornos de um jogo de empurra-empurra. "Esse centro deveria ser instalado em um local adequado. Não aqui, onde circulam muitas crianças e jovens", diz a advogada Ivani Marcucci, 60, moradora da Imaculada Conceição.

Quase em frente ao número 44 funciona um centro da criança e do adolescente da Prefeitura de São Paulo. Perto dele, uma escola estadual, a Fidelino de Figueiredo. Praticamente vizinha ao sobrado laranja está uma escola e berçário de educação infantil particular, a Carinha Suja.

"Temos bebês de quatro meses a cinco anos conosco", conta a dona, Regina Tacla. "Acho louvável a atitude da igreja em ajudar os pobres, e a gente colabora sempre que possível, mas aqui ao lado vai atrair pessoas indesejáveis."

Abaixo-assinados contra o novo centro correm por prédios e estabelecimentos comerciais da Imaculada Conceição e nas vizinhas Martim Francisco e Barão de Tatuí.

Segundo o empresário Hélio Leste, 57, até agora foram recolhidas 2.000 assinaturas. O objetivo? Chegar a 3.000. "A intenção dos moradores daqui é simplesmente melhorar a rua para que ela não se transforme em mais um ponto de tráfico de drogas", diz.

'COMIDA SEM BANHEIRO'

No começo da noite de hoje, Conseg (Conselho de Segurança) Santa Cecília, representantes das polícias Civil e Militar, dos moradores do bairro e da subprefeitura vão se reunir no Clube Piratininga para discutir o assunto.

Os abaixo-assinados vão ser entregues às autoridades. "Historicamente, essas ONGs vêm fazendo a manutenção da miséria", critica Fábio Fortes, 45, presidente do Conseg Santa Cecília. "Trazem comida, mas não o banheiro; o cobertor, mas não a cama."

Para a empresária Lilian Sallum, 33, uma das que participam do movimento, "que fique bem claro: não se trata de uma manifestação preconceituosa, mas, sim, do direito de os moradores se manifestarem contra algo que não desejam". "Muitos desses moradores de rua têm antecedentes criminais e são viciados em crack", afirma Lilian, que é dona do restaurante Esquina Grill do Fuad.

Renato Carioni, 37, chef do restaurante Così, na rua Barão de Tatuí, afirma que toda vez que o governo do Estado ou a polícia adota alguma medida na cracolândia, o efeito logo ecoa nas regiões de Santa Cecília e Higienópolis. "Os noias sobem. É fato."

Diz ele: "Se o centro social for instalado aqui, vai afetar o trabalho que a gente vem fazendo para recuperar essa região e irá repercutir diretamente no comércio local".

O sócio do Così, Leonardo Recalce, 36, conta que moradores de rua remexem o lixo, fazem cocô na rua, circulam com roupa suja e fétida. "Você segue com a sua família para um restaurante e é abordado por essas pessoas, muitas vezes de forma agressiva. Quem quer passar por isso?"


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