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Análise

Manifestações refletem crises de representação e representatividade

EM PESQUISAS, JOVENS DEIXAM CLARAS SUAS INSATISFAÇÕES

MAURO PAULINO DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA ALESSANDRO JANONI DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

Pesquisa do Datafolha realizada no final de 2011 sobre os protestos de alunos da USP contra a presença da Polícia Militar no campus mostrava que o conflito na universidade era um sintoma de crise democrática.

Em análise publicada na época, o Datafolha apontou que o distanciamento dos canais tradicionais de participação política era preocupante.

Várias pesquisas do instituto junto ao universo dos jovens deixavam claras suas frustrações em relação aos seus representantes. O texto citava a "internet como arma política desse segmento em uma mobilização que dispensa intermediários e que encontra base no grau de identificação social entre os usuários da rede".

Dados divulgados nos últimos dias comprovam o agravamento dessa crise de representação. O prestígio das instituições políticas, especialmente as dos Três Poderes, caiu significativamente nos últimos dez anos entre os paulistanos e a grande maioria dos participantes das manifestações declara-se apartidária.

Em tendência oposta, as redes sociais na internet figuram como instrumentos supervalorizados e de grande credibilidade principalmente entre os jovens.

Os R$ 0,20 de aumento do transporte público foi o gatilho nesse processo de deterioração nas relações entre representantes e representados. Mais uma dentre tantas outras demandas sociais feridas pelo poder público ao longo de anos. Até aí, nenhuma novidade.

Mas foi o suficiente para fertilizar um campo minado. Ao deixar o virtual para protestar no mundo real, da universidade às ruas, provocou a identificação imediata dos mais diferentes estratos sociais.

A imagem da repressão policial contra os jovens escolarizados despertou o apoio tanto de setores conservadores da classe média, que sofrem de insegurança crônica quanto, ainda que timidamente, quanto dos moradores da periferia, já familiarizados com a violência da instituição. Nesse momento o apoio aos protestos atinge patamar semelhante ao do início da campanha das Diretas, acima de 70%, conferindo-lhe legitimidade.

Se esse apoio amplo torna as manifestações heterogêneas como a realidade de São Paulo, por outro lado podem levá-las a um grau de complexidade intratável --como a representatividade por espelho, não refletirão apenas demandas, mas, principalmente, o desequilíbrio, as diferenças e os conflitos sociais típicos de uma cidade mal tratada e desigual. Foi o que se viu nos confrontos internos entre manifestantes nas tentativas de invasão da prefeitura e nos saques à lojas.

Esses episódios alertam o poder público para a urgência da criação de canais de participação adequados aos contrastes da cidade. É preciso ouvir a população, antes que ela grite.


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