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País em protesto
Gari morre ao inalar gás após protesto em Belém
Cleonice de Moraes, 45, passou mal ao não conseguir respirar, diz colega
Gás lacrimogêneo foi usado pela polícia em confronto anteontem; PM diz que produto não estava vencido
A gari Cleonice Vieira de Moraes, 54, morreu na manhã de ontem em Belém após inalar gás lacrimogêneo lançado pela Polícia Militar durante confronto com manifestantes no dia anterior.
Esta é a segunda morte decorrente da onda de protestos iniciada há duas semanas --a primeira foi a um homem atropelado em Ribeirão Preto (SP).
A gari trabalhava na limpeza noturna do centro de Belém. Anteontem, durante a radicalização dos protestos em frente à prefeitura da capital do Pará, Cleonice e outros trabalhadores se protegeram dentro de um bonde restaurado.
Depois que as bombas explodiram, ela passou mal e foi socorrida. Cleonice usava remédios para hipertensão.
De acordo com a Secretaria de Saúde de Belém, o susto provocado pelo tumulto causou a parada cardíaca.
Uma colega de trabalho, que pediu para não ser identificada com medo de sofrer represálias, contou que Cleonice começou a passar mal após inalar o gás.
O secretário de Saneamento de Belém, Luiz Otávio Mota, disse que os trabalhadores não foram obrigados a permanecer no local e que as circunstâncias da morte serão averiguadas.
A PM informou que o gás usado não estava vencido e que somente o laudo médico poderá dizer se há responsabilidade da polícia na morte.
O resultado da autópsia deve ser divulgado em 15 dias.
Cleonice vivia com os três filhos, de 27, 25 e 23 anos de idade, no bairro de Val-de-Cans, periferia de Belém. Há um ano e dois meses, foi aprovada em concurso municipal para a vaga de gari. Antes disso, trabalhava como diarista.