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Análise

Centrais perderam o monopólio das mobilizações políticas

O SUCESSO DE PÚBLICO, ADESÃO E RESULTADOS DA REVOLTA DE JUNHO EXPÔS O MODELO CLÁSSICO DE REIVINDICAÇÃO SINDICAL

RICARDO MENDONÇA DE SÃO PAULO

Talvez só haja uma semelhança entre os organizados protestos das centrais sindicais e as desorganizadas manifestações de rua de três semanas atrás: a pauta difusa.

Cada sindicalista tinha uma causa ontem. Pela redução da jornada, contra a terceirização, por mudança no cálculo da aposentadoria, contra a inflação, pelos 10% do PIB na educação, pela reforma agrária, pelo plebiscito da reforma política e até pela demissão imediata do ministro Guido Mantega.

O melhor resumo foi feito já na véspera pelo presidente do PSTU, José Maria de Almeida: "O PT pode dizer o que pensa, o PSTU pode dizer o que pensa. E quem estiver na manifestação vai julgar, aplaudindo ou vaiando quem defende o governo".

Líder da CSP/Conlutas, Almeida, ex-metalúrgico expulso do PT nos anos 1990 por radicalismo, protestou em pareceria com uma gama eclética de centrais: da UGT, ligada ao PSD de Gilberto Kassab, à Nova Central, do PMDB.

Há duas lógicas para tentar compreender o que ocorreu ontem. E ambas colocam os líderes das centrais a reboque dos protestos de junho.

A primeira é a tática, o senso de oportunidade. Sindicatos procuram aproveitar o momento de fragilidade do governo e o clima geral de insatisfação para tentar avançar em suas reivindicações.

Natural. Se o Ministério Público pegou carona para derrubar a PEC 37, se os homossexuais pegaram carona para enterrar a "cura gay", se até o governo tenta uma carona para fazer a reforma política e importar médicos, por que os sindicalistas não tentariam?

Com Dilma enfraquecida, pode até ser que consigam algum ganho trabalhista.

Já a segunda lógica é o velho senso de sobrevivência.

Sucesso de público, adesão e resultados, a revolta de junho expôs o modelo clássico de reivindicação sindical.

A começar pela mobilização, por redes sociais, quase tudo foi feito de forma inovadora no mês passado. Os atos eram diários, sempre no fim do expediente, sem liderança nítida, panfleto, partido, carro de som ou roteiro definido. Tudo ao contrário do que manda o manual sindical.

Em junho, os sindicalistas descobriram que não têm mais o monopólio das mobilizações políticas de rua. Perplexos, precisavam fazer algo para demonstrar -para fora e para eles próprios- que ainda têm poder de fogo.

Foi essa tentativa desesperada de retomar o protagonismo que uniu sindicalistas de alas tão distintas.


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