Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
'Manifestantes' ganham até R$ 70 para ir a ato sindical na Paulista
Reportagem flagrou grupo dando vale de pagamento a pessoas vestidas como militantes da UGT
Integrante da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) disse ter recebido R$ 50; centrais negam envolvimento
Numa rua atrás do Masp, um grupo de 80 pessoas com camisetas da UGT (União Geral dos Trabalhadores) espera em fila a vez de preencher um papel. Trata-se de um vale para que recebam R$ 70 por terem participado, vestidos como militantes, do ato de ontem na avenida Paulista.
A Folha presenciou a entrega do vale, que se deu por volta das 15h, quando a manifestação acabou.
Mulheres de 30 e 40 anos e rapazes com aparência de pós-adolescentes entregavam uma pulseira numerada que usaram na manifestação a um homem de agasalho, que perguntava o nome da pessoa, preenchia o vale e o entregava aos presentes.
No documento, consta que o pagamento é uma ajuda de custo para alimentação e transporte. Na parte de cima do papel, há impressa a data e o nome da manifestação: "11 de julho - Dia de Luta".
Em duas ocasiões, pessoas que organizam o grupo abordaram a reportagem e pediram para que deixasse o local.
Na fila, as pessoas confirmaram que não tinham relação com sindicatos filiados à UGT e que foram ao ato apenas para receber os R$ 70. Com medo de represálias, não quiseram dar o nome.
A UGT é presidida por Ricardo Patah, sindicalista filiado ao PSD, partido do ex-prefeito Gilberto Kassab. Ele negou que a central tenha pago manifestantes (leia ao lado).
QUAL SINDICATO?
A UGT não foi a única central a ter pessoas que receberam dinheiro. A Folha falou com um rapaz e uma mulher com camisa da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) -- que não se identificaram.
Questionado sobre a qual sindicato pertencia, o rapaz se dirigiu para a mulher ao lado: "Ixi... Qual o nosso sindicato mesmo?". Em seguida, ele saiu, desconfiado.
A mulher, então, respondeu: "Este aqui, olha: CSB", apontando para a camisa que vestia. A reportagem questionou sobre a que sindicato específico ela se referia, já que o CSB era uma central. Ela se limitou a responder, de forma genérica: "o dos trabalhadores".
Em seguida, ela declarou que foi à Paulista por R$ 50.
Em seu site, o CSB elenca como afiliados, entre outros, o sindicato dos trabalhadores de processamento de dados do Estado e o sindicato dos trabalhadores no vestuário de Guarulhos.
O dirigente da entidade presente à passeata negou pagamento aos militantes.
Tanto os manifestantes da UGT quanto os da CSB ficavam, com bandeiras e balões, diante do caminhão em que foram feitos os discursos.
Ao final do ato, militantes de outras centrais sindicais rumaram para a Consolação. Instados a continuar por pessoas com bandeira do PCO (Partido da Causa Operária) --de ideologia comunista trotskista--, os militantes da CSB e da UGT se recusaram: queriam ir embora.