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Ilustrada - em cima da hora

Morre, aos 72, Dominguinhos, o sucessor direto de Luiz Gonzaga

O músico, que lutava contra um câncer no pulmão, estava internado desde janeiro em SP

Cantor, compositor e sanfoneiro, artista atuou como divulgador de gêneros nordestinos, mas foi bem além disso

DE SÃO PAULO

O cantor, compositor e sanfoneiro Dominguinhos, 72, morreu ontem às 18h, em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas.

O artista lutava havia seis anos contra um câncer no pulmão. Ele foi internado em 17 de dezembro no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Em janeiro, foi transferido para o Hospital Sírio Libanês, em São Paulo onde permanecia internado.

O músico deixa a mulher, Guadalupe, e dois filhos. O velório será em São Paulo, e o enterro, em Recife.

Considerado um dos maiores sanfoneiros do país, José Domingos de Moraes nasceu em Garanhuns (PE), em 1941. Era filho de Seu Chicão, afinador e tocador de foles de oito baixos.

Dominguinhos foi, desde o início da carreira, incentivado por Luiz Gonzaga (1912-1989), que o consagrou como seu herdeiro artístico.

Ainda menino, ele se apresentou para o Rei do Baião pela primeira vez em um hotel de sua cidade, sem saber que tocava para Gonzagão.

"Ali na porta do Tavares Correia [hotel] a gente tocava sempre. Um dia nos botaram pra tocar dentro do Tavares Correia. Tinha uma pessoa lá, um cidadão e era exatamente o Luiz Gonzaga. Só que eu com 8, 9 anos não sabia quem era Luiz Gonzaga nem artista nenhum", contou ele no filme "Dominguinhos Canta e Conta Gonzaga", de 2012.

Não foi só no estilo que Gonzagão influenciou o sanfoneiro. Foi o Rei do Baião quem deu o nome artístico a Dominguinhos, dizendo que "Neném", apelido de infância do músico, não pegaria.

O apadrinhamento se intensificou em 1957, quando Luiz Gonzaga convidou o sanfoneiro a fazer sua primeira gravação, "Moça de Feira", em um disco dele.

Em mais de 55 anos de carreira, Dominguinhos gravou 40 discos. No primeiro, "Fim de Festa" (1964), interpretou temas de compositores como Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira e Zé do Baião e registrou duas músicas suas: "Frevo Cantagalo" e "Garanhuns".

No último álbum, "Iluminado Dominguinhos", lançado também em DVD em 2010, gravou grande parte de seu repertório instrumental com a participação de nomes como Gilberto Gil, Elba Ramalho, Wagner Tiso e Yamandu Costa, entre outros.

Assim como Gonzaga, Dominguinhos se notabilizou por ser um divulgadores de gêneros nordestinos como o baião, o frevo, o forró e o xote. Mas, como seu incentivador, não se restringiu a aqueles estilos, sendo reconhecido também por suas interpretações para o choro.

XODÓ E SEDE

Como instrumentista, o sanfoneiro tocou com nomes respeitados da música brasileira: Gil, Gal, Caetano, Bethânia, Chico, Fagner, Elba Ramalho, Milton Nascimento, Nara Leão, Toquinho, Beth Carvalho, Djavan, Nana Caymmi, Jards Macalé, Luiz Melodia e Renato Teixeira.

Autor de músicas instrumentais carregadas de sentimento e expressividade, também teve composições letradas que fizeram sucesso.

Suas músicas mais conhecidas são "Eu Só Quero um Xodó" e "Tenho Sede" (parcerias com Anastácia), cujos registros mais famosos foram feitos por Gil na década de 1970, "Isso Aqui Tá Bom Demais" e "De Volta pro Aconchego" --clássico na voz de Elba Ramalho, nos anos 1980--, "Abri a Porta" e "Lamento Sertanejo" (com Gil).

A popularidade de Dominguinhos aumentou nos anos 1980 quando suas músicas "De Volta pro Aconchego" e "Isso Aqui Tá Bom Demais" fizeram parte da trilha da novela "Roque Santeiro".

Na mesma década, Chico Buarque gravou "Tantas Palavras", parceria sua com o sanfoneiro, que voltou a fazer sucesso por todo o país.

JINGLE POLÍTICO

Dominguinhos gravou jingles para as campanhas presidenciais do PSDB. Em 1994, cantava xotes para o então candidato Fernando Henrique Cardoso: "Tá na minha mão, na sua mão, na mão da gente/Fazer Fernando Henrique presidente!".

Em 1998, na disputa pela reeleição, o jingle foi composto pelo publicitário Nizan Guanaes: "Levanta a mão e vem com a gente / Vamos lá fazer um Brasil diferente".

"Por mais nacional que fosse, ele era a cara da música tradicional do Nordeste", disse José Serra.

Em 2002, Serra também ganhou jingle em sua campanha presidencial. Ele lembra haver cantado a música "Baião" ao lado de Dominguinhos. "Cantamos juntos em duas ou três ocasiões, quando eu já era governador."

Dominguinhos gravou também um forró para Geraldo Alckmin, em 2006.

O sanfoneiro fez sua última apresentação em 13 de dezembro, em homenagem a Luiz Gonzaga, no dia do centenário de nascimento do Rei do Baião, em Exu (PE).


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