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Júri do massacre do Carandiru entra em nova fase amanhã

Na segunda etapa, serão julgados 26 PMs acusados pela maior parte das mortes na Casa de Detenção em 1993

No primeiro júri, em abril, 23 policiais foram condenados a 156 anos de prisão, mas recorrem da decisão em liberdade

TALITA BEDINELLI DE SÃO PAULO

Três meses após a condenação de 23 policiais militares pelo massacre do Carandiru, que resultou na morte de 111 presos em outubro de 1992, começa amanhã, às 9h, a segunda etapa do maior júri em número de vítimas do país.

Agora, serão julgados 26 policiais da Rota (tropa de elite da PM paulista), acusados pelo maior número de mortes no massacre: 73 homens que estavam no 2º andar da penitenciária.

Com 50 mil páginas, 57 volumes e 84 réus, o processo teve de ser desmembrado em quatro júris diferentes.

Os acusados foram divididos em grupos, de acordo com os andares em que atuaram naquele dia.

Na primeira parte do julgamento, em abril, 23 PMs que entraram no primeiro andar do prédio foram condenados a 156 anos de prisão cada. Eles recorreram e aguardam a decisão da Justiça em liberdade.

Para tentar evitar que o resultado se repita, a defensora de todos os réus, Ieda Ribeiro de Souza, afirma que pretende explorar como era a vida dos detentos.

"Muitos dos que julgaram da outra vez eram jovens e não conheceram o Carandiru. A visão que eles têm é a de um filme de ficção", afirma ela, referindo-se a "Carandiru", filme de Hector Babenco que retrata o massacre e foi usado pela Promotoria para sensibilizar o júri.

Ieda afirmou ainda que dará preferência para jurados mais velhos e que sejam das áreas de ciências exatas ou humanas, que teriam mais "raciocínio lógico e que possam perceber a situação emocional das pessoas [PMs] que estavam lá dentro", diz.

Defesa e acusação podem recusar até três dos jurados sorteados sem justificativa.

'MONSTROS'

Já o promotor Fernando Pereira da Silva deve usar a mesma retórica que convenceu os jurados em abril.

Ele mostrou que muitos dos que morreram no massacre já tinham direito ao regime semiaberto e não deveriam estar mais no presídio.

Ao lado do promotor Márcio Friggi, que foi substituído nesta etapa por Eduardo Olavo Canto Neto, eles tentaram desconstruir a tese de que os mortos eram "monstros" e, por isso, mereciam morrer.

Exemplificaram com a história de vida dos detentos mortos: um havia assaltado um ônibus com uma faca, dizendo que precisava "do leite das crianças".

Eles também mostraram que os policiais tinham histórico de violência: só três dos réus não tinham nenhuma morte na ficha. Um já havia matado 23 pessoas e outro foi investigado por atirar na perna de um menor de idade suspeito de furtar merenda.

Segundo Silva, o perfil dos 26 que irão a júri amanhã é similar. E o que se passou no segundo andar do Carandiru reforça que houve massacre.

"Nesse andar, há provas materiais mais evidentes. Em mais de um local há rajadas de metralhadoras dentro das celas. O próprio número de mortes ratifica o massacre que aconteceu", diz o promotor. Entre os 73 mortos, há um preso que recebeu nove tiros. Ao todo, foram 300 disparos.

A advogada dos réus afirma que a condenação é incorreta, pois não é possível individualizar a conduta de cada um, já que não houve perícia nas armas dos policiais.


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