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Esquartejamento vira estigma em vila no Maranhão

Partida de futebol acabou com mortes de jogador e de árbitro, que teve membros cortados e foi decapitado

Moradores do povoado reclamam de demora da polícia e dizem ser 'amaldiçoados' por vizinhos da cidade

REYNALDO TUROLLO JR. ENVIADO ESPECIAL A PIO XII (MA)

Centro do Meio, no Maranhão, é um povoado de 200 famílias na zona rural de Pio XII, ao sul de São Luís. Há um mês, passou a centro das atenções após uma partida de futebol acabar com um jogador morto e o juiz esquartejado.

Desde então, moradores do vilarejo se dizem "amaldiçoados" por vizinhos da cidade e o silêncio sobre o caso esconde detalhes de um homicídio que teria sido registrado por dezenas de câmeras de celular --imagens que nunca apareceram.

Na ocasião, o juiz, Otávio Cantanhêde, 19, e o jogador expulso, Josemir Abreu, 30, discutiram, e o árbitro acabou esfaqueando o jogador, que foi levado ao hospital.

Dezenas de pessoas mantiveram Cantanhêde amarrado até que, com a notícia da morte de Abreu uma hora depois, veio o veredicto: o juiz teve pernas e braços cortados com uma foice e foi decapitado.

Sua cabeça foi colocada numa estaca da cerca que contorna o campo de futebol.

De casas simples, mato alto e ruas de terra, habitantes de Pio XII mal se lembram do último homicídio na localidade, ocorrido há 15 ou 16 anos, a depender do relato.

Agora, a recordação dos últimos crimes é constante: crianças de Centro do Meio passaram a ser hostilizadas na escola e quem é da área urbana de Pio XII se benze quando vê moradores do povoado.

"Quem mora aqui se sente revoltado. Até crianças estão sofrendo", diz a dona de casa Teresa de Souza, 52, vizinha do campo de futebol que sediou o jogo daquele fim de tarde de 30 de junho.

AINDA VIVO

São poucos os relatos sobre o episódio no povoado, embora a Promotoria diga que houve dezenas de testemunhas.

Sabe-se que era uma típica pelada: os times não tinham nomes e o juiz era apenas um jogador que apitava por ter machucado o pé.

A vizinha do campo é uma exceção em meio ao silêncio: pela janela,diz ter visto um homem levantar a cabeça de Cantanhêde "como troféu" e espetá-la na cerca.

Jane Cantanhêde, tia do juiz, conta que ele teve as pernas cortadas abaixo dos joelhos. "Depois cortaram o pescoço e jogaram com a cabeça, como se fosse uma bola."

O Ministério Público denunciou cinco pessoas pela morte do juiz, mas há suspeita de outros participantes.

"Está difícil saber. Só ficaram os boatos", afirma o promotor Romero Piccoli, para quem o juiz da partida foi esquartejado ainda vivo.

DEMORA POLICIAL

Moradores dizem que a polícia poderia ter evitado ao menos a segunda morte, pois fora chamada enquanto o árbitro ainda estava amarrado.

O governo do Maranhão não comentou a suposta demora. Pio XII, com 22 mil habitantes, tem três policiais e sua área urbana fica a cerca de 15 minutos de carro do povoado onde ocorreu o crime.

Dos acusados, dois estão presos e três, foragidos. O acusado de usar a foice é de Conceição do Lago-Açu, a cerca de 90 km da cidade.

Moradores dizem que Centro do Meio foi estigmatizado injustamente, pois o crime foi cometido por gente de fora e não pôde ser evitado.

E, no campo de terra, não houve mais jogos desde aquele domingo.


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