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Minha história - D., 17

Não sei se atirei

Tráfico, furto e latrocínio (roubo seguido de morte); o mundo de D.,17, girou em redor do crime desde o início da adolescência; está internado na Fundação Casa

ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO

Comecei a fazer violência com 14 anos. Tinha aprendido a dirigir e parado de estudar. Comecei movendo carros roubados de uma rua para a outra. Aí, comecei a usar a droga e a sair bastante para a balada. No início, não traficava, não. Eu trabalhava com meu padrasto como ajudante de pedreiro.

Um amigo criado comigo me chamou para roubar carro na [chave] micha. Eu roubava para curtir, para ir para o baile funk de carro. Depois, começamos a roubar carro para vender. Arrumei uma arma de brinquedo, comecei a roubar ônibus. Aí, conseguimos uma arma de verdade.

Minha família descobriu em 2010, quando fui preso por furto. Minha mãe começou a me dar conselho, mas eu não ouvi.

Um dia, quando fomos para o baile funk, a polícia mandou parar e não paramos. O carro bateu. Eu corri para uma rua, meu amigo correu para outra e aí mataram meu amigo, atiraram nele. Eu fugi. Depois disso, fiquei uns tempos parado, umas duas semanas. Aí, depois comecei a andar com umas pessoas e comecei tudo de novo.

Fui preso e liberado por furto de novo. Depois fui para a Bahia ficar com a minha avó. Fiquei sete meses e pedi para minha mãe para voltar, achava que tinha mudado.

Voltando, fiquei uma semana sossegado e aí começou tudo de novo. Estava indo comprar pão e um amigo me chamou. Foi quando comecei a traficar. Vendia crack, cocaína e maconha.

O dono da boca trazia e deixava um pouco na mão de cada um e na sexta-feira ele ia buscar o dinheiro. De R$ 100 que vendia, era R$ 30 meu, R$ 60 do dono e eu dava R$ 10 para quem me ajudava.

VIOLÊNCIA

Tinha violência quando alguém não pagava. Eu bati umas duas vezes, mas não gosto, não. A gente era obrigado. Quem não está com os traficantes está contra, né? Se não quiser, é só sair do tráfico. Tem que estar disposto para tudo lá.

Fui preso de novo e liberado por assalto, roubei um carro. Ia ficar com ele para mim. Era um Corsa Classic.

Depois de umas três semanas, eu vim para cá. Fui roubar uma moto, aí entrei na garagem do dono da moto. Aí, ele reagiu e a arma disparou no meu braço. Não sei se fui eu que atirei ou se disparou, eu estava meio assustado. Quando ele se afastou de mim, eu saí correndo.

Só fiquei sabendo que ele tinha morrido quando eu estava no hospital. Era um cara meio velho já, tinha uns 40 anos. Acho que ele tinha uma filha de uns 17 anos.

Comecei a pensar que não era culpa minha porque ele tinha reagido. Aí, depois que eu vim para cá, foram conversando comigo e eu vi que, se não tivesse ido lá, não teria acontecido aquilo.

Acho que a gente se envolve por causa de amizade mesmo. Nunca me faltou nada. Meu pai faleceu quando eu tinha quatro anos. Mesmo assim minha mãe me criou bem. Depois ela arrumou o marido dela de hoje. Ele ajudou ela e me criou bem.

O problema é amizade e querer curtir com coisa fácil. Eu só pensava em curtir, em namorada. Acho que nessa parte tem também umas meninas que influenciam bastante. Você pensa que a menina quer ficar com você por causa do carro. Você pensa que todo mundo está com você porque você é o tal.

Estou pensando em passar uns tempos com minha avó quando sair daqui. Não quero voltar para onde eu morava e ver tudo do mesmo jeito. Lá não é muito bom. Estou aqui há dois anos. Se voltar a fazer crime e for para o CDP [Centro de Detenção Provisória, para onde são levados adultos suspeitos de crimes], vou ficar ainda mais tempo.


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