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Para médica cubana que atua no interior português é o desafio

No Brasil desde 1997, ela diz que seus conterrâneos devem demorar pelo menos 3 meses para se adaptarem ao idioma

Vinda de 4.000 médicos cubanos para o país, anunciada pelo governo federal, é criticada por entidades da classe

LEANDRO MACHADO ENVIADO ESPECIAL A CORDEIRÓPOLIS

Com carregado sotaque, a médica cubana Ivonne Sanchez, 46, atende cem pacientes por semana em um posto de saúde ao lado de uma fazenda de gado em Cordeirópolis, cidade de 20 mil habitantes a 158 km de São Paulo.

Ela também visita os pacientes em casa e, já é amiga das famílias, não nega um cafezinho. Faz isso há três anos e ganha R$ 12 mil mensais.

Ivonne veio pela primeira vez ao Brasil em 1997 para ajudar a implantar o Programa Saúde da Família, em Araras, também no interior paulista.

Ela acredita que os médicos cubanos que chegam neste fim de semana ao Brasil devem demorar ao menos três meses para se adaptar à língua e ao atendimento básico no SUS --foco do Programa Mais Médicos.

Em Havana, um médico do Saúde da Família atende por volta de 120 famílias. No Brasil, o número é maior. Em Cordeirópolis, por exemplo, ela é responsável por 600.

"As condições são diferentes. No Brasil, temos mais pacientes e melhor estrutura física nas unidades. Lá, tem mais profissionais", diz.

A vinda de 4.000 médicos cubanos, anunciada pelo governo federal foi criticada por entidades médicas, que classificaram a medida como "trabalho escravo".

O salário deles será pago a Cuba, que repassará um valor ao profissional. A quantia não foi divulgada, no entanto.

"A gente vem pela ideologia de ajudar os outros", diz.

Ela também descarta a possibilidade de os médicos não voltarem ao país de origem após os três anos de atuação no Mais Médicos.

"A deserção, nesses programas, é pequena. Não posso falar por todo mundo, mas acho que o médico não vem com isso na cabeça".

DESTINO

Formada na Universidade de Havana, Ivonne se inscreveu num programa que leva médicos cubanos ao exterior.

Quem escolheu seu destino foi o governo de Fidel Castro. Havia duas opções para ela: África do Sul e Brasil. Como não sabia falar inglês, sobrou-lhe o Brasil.

Ela conta que, momentos após desembarcar em Guarulhos, conversou por um tempo com um homem. Só depois de alguns minutos de português improvisado descobriu que ele era o motorista encarregado de levá-la a Araras.

"No começo, foi difícil, não entendia muito o que o paciente falava, mas aprendi na raça, no dia a dia", conta.

Em 1997, ela ganhava em torno de R$ 4.000 mensais em Araras. "Era o salário médio de um médico brasileiro na época", conta.

Ela recebia diretamente da prefeitura da cidade, num convênio com o Ministério da Saúde de Cuba. O dinheiro não passava pelo governo.

Ela acabou naturalizando-se brasileira e passou, em 2008, no Revalida (exame para validar diplomas de médicos formados no exterior). Casou-se com um mineiro e tem um filho.

Em Cordeirópolis, ela é admirada pelos moradores. "No começo, não entendia muito o que ela falava, mas hoje não a trocaria por um brasileiro", diz o aposentado Dionísio Barbosa, 66, que é diabético.

Após a consulta, ele a convida: "Doutora, quando a senhora vai lá em casa tomar aquele cafezinho?"


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