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Governo vai leiloar áreas invadidas na década de 70

Terrenos foram desapropriados há mais de 40 anos pela Secretaria de Transportes

A desocupação terá que ser feita por quem arrematar as áreas; R$ 30 milhões devem ser arrecadados com venda

EDUARDO GERAQUE DE SÃO PAULO

Começou com um projeto viário fracassado nos anos 1970. Logo em seguida, veio a invasão de 60 terrenos públicos em uma área, naquela época, esquecida na zona sul da capital paulista.

As décadas passaram. Veio a avenida Berrini, a Águas Espraiadas, hoje Jornalista Roberto Marinho. A região acabou virando alvo do mercado imobiliário.

A partir do fim do ano que vem, vai ter até monotrilho e metrô ali, uma área que já tem os trens da CPTM.

Mais de 40 anos depois da invasão, as moradias de mais de mil pessoas, que vivem nas 400 casas feitas dentro dos 60 terrenos invadidos entre os anos 1970 e 1990, estão ameaçadas.

Está marcado para sexta-feira, de acordo com a Secretaria Estadual de Planejamento, o leilão dos seis primeiros dos 60 imóveis.

SAUDOSA MALOCA

Quem der mais, leva. E terá que retirar as pessoas do local por conta própria.

Existem dois terrenos --de mais de 500 metros quadrados-- que serão leiloados até outubro com lance mínimo superior a R$ 1 milhão.

Ao contrário da "Saudosa Maloca" de Adoniran Barbosa (1910-1982), nas margens da Roberto Marinho não existem barracos, mas casas de tijolos e uma comunidade organizada, que não pretende deixar o facilmente o local.

"Fomos surpreendidos por esse leilão. Não houve nenhum plano de comunicação social com as pessoas avisando isso", diz Elizete Santos, que mora em uma das áreas que será leiloada desde 1987.

Auxiliar administrativa de uma igreja católica da região, ela lembra da grande favela que havia do lado daquela área quando ela chegou por ali, e das frequentes enchentes que assolavam a região.

"Nós chegamos a comprar essa casa, que já era de tijolo, mas sem reboque", diz.

No terreno de Elizete há 18 casas. Todas têm água, luz e telefone individualizados. "Há famílias que moram aqui há quase 50 anos", afirma.

De acordo com os moradores, que estão sendo representados na Justiça pela Defensoria Pública, uma lei de 2001, que regula a moradia em áreas públicas nas cidades, garante o direito deles de ficar onde estão hoje.

Os terrenos onde vivem essas famílias são todos públicos, porque o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) gastou, na época, 600 milhões de cruzeiros --quantia hoje considerada pequena, em comparação com estimativas de valor de mercado atual-- para desapropriar toda a área.

O plano, tocado em 1973 pelo então secretário de Transportes, Paulo Maluf, era que a área fosse parte de um grande anel viário na região.

Vinte anos depois, o mesmo Maluf, então prefeito, resolveu abrir a polêmica Águas Espraiadas, considerada, na época, uma das avenidas mais caras do mundo.

O governo estadual defende o leilão e diz que tem respaldo jurídico para vender os terrenos. O dinheiro arrecadado, que pode ser de R$ 30 milhões, será usado em parcerias com o setor privado.


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