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A morte e a morte de Dominguinhos

Dois meses depois de ter sido sepultado, corpo do sanfoneiro é trasladado de Paulista a Garanhuns, a pedido da Justiça

DANIEL CARVALHO DO RECIFE JULIANA GRAGNANI DE SÃO PAULO

A ideia de que quem ama sua terra "deseja nela descansar", máxima do prefeito Odorico Paraguaçu em "O Bem-Amado", deu ontem ao cantor Dominguinhos um segundo enterro.

O corpo do sanfoneiro, morto em julho aos 72 anos vítima de um câncer de pulmão contra o qual lutou por seis anos, havia sido sepultado em Paulista, região metropolitana de Recife (PE).

Mas uma entrevista antiga e um imbróglio familiar por ora resolvido fizeram a Justiça determinar a exumação e o traslado do corpo a Garanhuns (PE), cidade natal do sanfoneiro.

A afirmação que motivou a mudança havia sido feita à Rádio Jornal, do Recife.

"Se por acaso tu morrer, tu vai para Garanhuns, Santo Amaro [bairro do Recife onde se localiza um cemitério homônimo] ou fica por São Paulo?", perguntara o radialista Geraldo Freire.

"Ave Maria, eu sempre falo de Garanhuns", respondera Dominguinhos.

O corpo do cantor foi exumado por volta das 6h de ontem. Funcionários da Vigilância Sanitária do Estado usaram máscaras de proteção para realizar o procedimento.

Em seguida, o corpo foi conduzido numa limusine preta ao restaurante de comida nordestina "Arriégua", de Luiz Ceará, um dos melhores amigos do artista, no bairro da Várzea, zona oeste do Recife. No local, houve uma bênção ao cantor.

No caminho de 230 km percorrido pelo cortejo até Garanhuns uma multidão se aglomerou às margens da BR-232 para aplaudir.

Na cidade, um mausoléu foi construído pela prefeitura. A administração municipal não informou o valor da obra, feita em granito, com uma imagem do artista em aço e um trecho da letra "De Volta para o Aconchego". O mausoléu levou cerca de um mês e meio para ficar pronto.

Como os primeiros velórios (ele havia sido velado também em São Paulo) e enterro de Dominguinhos, a nova despedida foi feita ao som de forró. Um palco foi armado e artistas se apresentaram durante todo o dia. Por volta das 14h, o caixão com o corpo de Dominguinhos foi sepultado, com o Hino Nacional ao fundo.

MATUTO DE GARANHUNS

A decisão sobre o primeiro local de enterro havia sido tomada por Liv Moraes, uma das filhas do artista, a contragosto do outro filho do cantor, Mauro Moraes.

Em agosto, Mauro entrou com um pedido de antecipação de tutela na 1ª Vara Cível de Paulista para trasladar o corpo de Dominguinhos.

A sentença proferida pela juíza Andréa Duarte Gomes foi favorável ao processo: ela disse haver considerado "as fortes raízes de Dominguinhos com seus costumes, sua terra natal, e principalmente o patrimônio cultural envolvido, motivo de regozijo, exultação do povo do agreste".

Gomes ainda citou a canção "Matuto de Garanhuns", composta pelo mestre Camarão, como evidência do "forte laço havido entre Dominguinhos e os costumes do interior". A letra da canção, com versos como "tocou sentindo o cheiro da terra" e "foi matuto de Garanhuns, o maior sanfoneiro da nação", foi transcrita na sentença.

Liv afirma que não houve desentendimentos sobre o local do enterro. "Nós também queríamos que ele fosse enterrado em Garanhuns, mas a cidade ainda não estava pronta para recebê-lo", diz.

Num caso como esse, cabe a derradeira frase de personagem do livro "A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água", de Jorge Amado: "Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há".


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