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Crianças trocadas na maternidade vivem como irmãs
Hoje com 11 anos, Beatriz e Maria Fernanda só voltaram às verdadeiras famílias depois que completaram 1 ano
'Houve um erro e não se sabe a forma como se deu', diz o advogado da Santa Casa de São Joaquim da Barra (SP)
Em 7 de fevereiro de 2003, na Santa Casa de São Joaquim da Barra, a 382 km de São Paulo, a professora Milena Filetti Mustafe deu à luz Beatriz. No mesmo dia, horário e hospital, nasceu a filha da servente Sandra Helena Luiz, Maria Fernanda.
Ou, ao menos, era o que as mães acreditavam ter acontecido naquela manhã. Em pouco tempo, elas souberam que estavam enganadas.
Aos 10 meses, Beatriz tinha o cabelo enrolado e não se parecia com os pais, de cabelo liso e pele mais clara. Foi quando um exame de DNA revelou que as meninas tinham sido trocadas na maternidade.
A situação é semelhante à retratada no filme japonês "Pais e Filhos" (2013), ganhador do Prêmio do Júri no último Festival de Cannes.
"Houve um erro e não se sabe a forma como se deu. Nós assumimos a culpa", diz o advogado da Santa Casa, Alexandre Nader (leia mais ao lado).
A Justiça determinou que as meninas fossem destrocadas no dia 13 de fevereiro de 2004, quando já tinham completado um ano.
As famílias obedeceram, mas desconsideraram a recomendação de mantê-las afastadas e criaram as filhas perto uma da outra.
"A dor é grande. Eu sinto falta da Beatriz. Não gosto de levá-la de volta para a casa dela e ela chora também", diz Milena, 46.
"Eu não queria conhecer [a Beatriz]. Só me aproximei porque a Justiça mandou", afirma Sandra, 40.
Àquela altura, Maria Fernanda já falava "mamãe" e dava seus primeiros passos.
"No início, eu olhava para a Maria Fernanda no berço e perguntava: Quem é essa menina? Cadê a minha filha?' Foi difícil", afirma Milena.
A troca tampouco foi fácil para Sandra, que enfrentou dificuldades para conseguir se adaptar à filha verdadeira."Até hoje sinto falta da Maria Fernanda", diz.
IRMÃS
Ao contrário das mães, Beatriz e Maria Fernanda se adaptaram rapidamente à nova situação. Elas se consideram irmãs, passam as férias juntas e até o ano passado estudavam na mesma escola.
A partir deste ano, terão de se adaptar à distância, pois a família de Maria Fernanda se mudou para Franca.
"Uma vez eu contei para a minha professora que fui trocada na maternidade e ela não acreditou. Eu sei que é uma história diferente", diz Maria Fernanda.
Às vezes, Beatriz chama Milena de mãe, e Maria Fernanda faz o mesmo com Sandra. "De vez em quando eu quero morar na minha casa, outras vezes com a outra família. Ainda não consegui chegar a uma conclusão", afirma Beatriz.