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Cheia histórica do rio Madeira deixa bairros abandonados em Porto Velho

Esvaziada, área inundada atrai curiosos e turistas, que pagam R$ 5 por um passeio de barco

Rio está 19,15 m acima do normal; moradores deixaram local há um mês, mas fazem rondas para evitar saques

LUCAS REIS ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO

Situado às margens da histórica estrada de ferro Madeira-Mamoré, o bairro do Triângulo é um dos mais antigos de Porto Velho. Mas há cerca de um mês o local, moradia de ex-ferroviários e de famílias tradicionais da cidade, tornou-se atração turística por outra razão: o abandono.

Hoje quase sem nenhum morador, o bairro atrai curiosos que fazem fila para passear de barco e ver de perto moradias, lojas e cabarés submersos pelo rio Madeira.

Essa é a maior cheia de que se tem notícia nos cem anos de fundação da capital de Rondônia. Como Triângulo, outros quatro bairros estão desertos devido à cheia.

O passeio para ver de perto a tragédia custa a partir de R$ 5 por pessoa, segundo os barqueiros que aproveitam a oportunidade de lucro extra.

Há pelo menos 30 embarcações, diz Mauricélio Pinheiro, 27, que deixou um garimpo por causa da cheia e ganha até R$ 500 por semana com os passeios.

"As pessoas sabem que o bairro está todo inundado, mas querem ver com os próprios olhos. Não há quem não se impressione com a cena."

Telefones públicos, placas de sinalização e semáforos praticamente sumiram. Algumas casas mantêm portas e janelas abertas, por onde é possível espiar resquícios de lares, igrejas, bares e lojas.

No domingo, quando a reportagem esteve no local, o nível do rio estava 19,15 metros acima do normal. Até abril, deve alcançar 19,40 metros, estima a Defesa Civil.

A cheia já afetou mais de 3.500 famílias na capital.

"A gente mora aqui há muito tempo e fica espantado de ver um lugar tão antigo sumir", disse o comerciante Roberto Feitosa, 47, um dos turistas do passeio.

Por todo o bairro ribeirinho, perto do centro, há lixo e milhares de peixes mortos boiando nas águas barrentas.

SAQUES

Sinal de vida quase não há, a não ser pelo barulho dos barcos lotados de curiosos com câmeras em punho registrando o cenário. Um morador surge de canoa da varanda submersa de sua casa.

"Faz exatamente um mês que saímos daqui. Em uma só noite, o nível da água subiu um metro e meio. Salvamos o que pudemos e deixamos tudo", conta Antônio Freitas, 50, que há 30 mora --ou morava-- no Triângulo.

"Algumas coisas já saquearam. Volto todo dia pra ver se os móveis continuam aqui."

Edgard Francisco Nascimento, 55, é outro resistente. Sua casa não foi invadida pela água por alguns palmos. "Nasci e fui criado aqui. Daqui eu não saio", diz ele.

Sobre uma casa flutuante, dois irmãos falam da cheia. "O problema é que tem aparecido muito jacaré e cobra", diz Paulo de Lima, 33.

Funcionário da usina hidrelétrica Jirau, na zona rural da cidade, Lima está sem trabalhar há um mês. "Não tem como ir para lá", conta.


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