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'Nem animal seria tratado desse jeito', diz família de vigia

Segurança morreu após passar mal em frente a hospital na zona leste; testemunhas dizem que ele não foi socorrido

Polícia Civil investiga omissão de socorro; hospital diz que punirá funcionários caso falhas sejam comprovadas

GIBA BERGAMIM JR. DE SÃO PAULO

As imagens do segurança Nelson França, 48, se contorcendo e balbuciando um pedido de socorro na frente de um hospital, sem atendimento, não saem da cabeça do também segurança Fábio de Jesus, 31, sobrinho da vítima. "Nem um animal poderia ser tratado desse jeito", disse.

A frase de Jesus resume a revolta da família de França, que morreu após passar mal na frente do Hospital e Maternidade Santo Expedito, em Itaquera (zona leste), na semana passada. A unidade médica, que é particular, é acusada de omissão de socorro pelos parentes da vítima.

Gravadas pela câmera de um celular, as imagens foram veiculadas à exaustão entre sexta-feira e domingo em programas de televisão.

Feitas por uma mulher que acompanhava a mãe para uma consulta, as filmagens serão usadas nas investigações da polícia e do Conselho Regional de Medicina.

Nelas, dois homens --que seriam um médico e um enfermeiro--observam a vítima no chão, sem tocá-la.

Um deles chamou o Corpo de Bombeiros, que socorreu França e o levou até um hospital municipal, onde ele já chegou sem vida.

No vídeo, testemunhas gritam com funcionários, pedindo que eles façam os primeiros socorros. Eles dizem que não houve atendimento.

De uma família simples de Cidade Tiradentes --distrito do leste de São Paulo que está entre os mais pobres do município-- França, casado e três filhos, sentiu dores no peito quando estava em uma lotação, a caminho do trabalho, na noite de quarta (16). Foi deixado no hospital pelo cobrador, que seguiu viagem.

"Se não fosse essa gravação, nunca saberíamos a verdade. Tem que haver punição", afirmou Jesus. Ele conta que familiares se juntaram para pagar os cerca de R$ 2.000 com o funeral.

PREÇO DA CONSULTA

"Liguei no hospital depois para saber quanto teria custado para ele ser atendido, já que ele não tinha convênio médico. Me disseram que a consulta custa R$ 120. A vida dele valia muito mais", disse.

Em nota, o hospital diz que abriu sindicância interna. "Caso seja apurada a responsabilidade de algum profissional, a diretoria do hospital não hesitará em punir com rigor os eventuais envolvidos. O Hospital Santo Expedito não corrobora de forma alguma com qualquer tipo de omissão de seus profissionais", diz o texto.

O hospital, que diz fazer atendimento à população carente da região, acusa o motorista da lotação. "O senhor Nelson França foi irresponsavelmente abandonado pelo condutor da lotação que, caso tivesse adentrado ao pronto-socorro, distante 150 m do local, o fato não teria acontecido", diz a nota. A Folha não localizou o motorista.

OUTRA SUSPEITA

A polícia do Rio apura um caso semelhante. O fotógrafo Luiz Claudio Marigo, 63, morreu após passar mal dentro de um ônibus. Levado ao Instituto Nacional de Cardiologia, ele não foi socorrido.

Na semana passada, o presidente e nove funcionários do hospital foram indiciados por homicídio doloso (intencional). É o chamado dolo eventual --quando a pessoa assume o risco de matar.


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