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A vida secreta de 'Ricardo' Abdelmassih

Com identidade falsa, ex-médico viveu em mansão como cidadão paraguaio, com segurança e chofer, em frente a uma clínica e a 4 quadras da escola dos filhos

REYNALDO TUROLLO JR. EDUARDO ANIZELLI ENVIADOS ESPECIAIS A ASSUNÇÃO

Numa rua arborizada de um dos bairros mais caros de Assunção, em frente a uma clínica médica, morava Ricardo Galeano, um cidadão paraguaio de 65 anos que gostava de almoçar aos domingos num dos restaurantes mais conceituados da cidade.

Uma mansão de paredes brancas, dois andares, rodeada de imóveis semelhantes, com amplos jardins.

Chofer em carros de luxo, babá e empregadas entravam e saíam, relataram os vizinhos, além de um segurança particular em tempo integral --que disse trabalhar para vários moradores da mesma rua, embora sua guarita fique no jardim dessa mansão.

O bairro é San Cristóbal, a rua, a calle Guido Spano, e Ricardo era o nome usado pelo ex-médico Roger Abdelmassih, 70, foragido do Brasil, para não deixar rastros.

No documento, conforme o sistema do Departamento de Identificação da polícia paraguaia, Ricardo Galeano nasceu em 6 de fevereiro de 1949, numa localidade chamada Dr. Francia.

Segundo investigadores, uma das hipóteses é que Abdelmassih tenha assumido a identidade de um cidadão que já morreu, mediante pagamento a policiais --o que está sob investigação.

Era como Ricardo que Abdelmassih se apresentava na Maria's Preschool, escola maternal que os filhos gêmeos de três anos, um menino e uma menina, frequentavam. A escola fica na mesma rua, a quatro quadras da residência.

Segundo a imobiliária, o aluguel da mansão era US$ 5.000 (cerca de R$ 11.300). Em São Paulo, Abdelmassih disse que custava US$ 1.800.

As moças da recepção da clínica médica em frente à casa disseram estar surpresas pelo "vizinho tão famoso".

Segundo pais de alunos do Maria's Preschool, que se reuniram na tarde desta quarta (20) com a direção da escola para falar da prisão de Abdelmassih, a mensalidade ali equivale a R$ 400 mensais --valor considerado alto para os padrões de Assunção.

'SEQUESTRO'

A mulher de Abdelmassih, a ex-procuradora da República Larissa Sacco, usava o nome verdadeiro na escola --segundo a mãe de um colega de classe dos gêmeos.

Essa mãe, que não quis ter o nome revelado, disse ter levado um susto ao presenciar a prisão do foragido, em frente à escola, na terça-feira (19) à tarde. "Achei que fosse um sequestro. Os policiais não estavam identificados."

No dia a dia, Abdelmassih caminhava pelas ruas do bairro. O vizinho Júlio Torales, 29, o viu algumas vezes nos últimos três anos. "Ele era discreto e silencioso. Cumprimentava quando passava e tinha uma boa vida."

Outro vizinho, que não se identificou, disse nunca ter visto o ex-médico, apenas o chofer. "A casa estava ocupada havia entre dois e três anos", confirmou.

A três quadras dali mora o pernambucano Aldemir Cavalcanti, 30, que cursa medicina em Assunção. Descobriu pelo noticiário que seu filho, de 3 anos, era colega de sala do filho de Abdelmassih. Disse nunca ter visto o foragido.

"Acho que se chegasse a vê-lo, eu reconheceria. Espanto total. Ninguém imaginaria que ele estivesse tão próximo", afirmou.

Um dos poucos cuidados que o ex-médico tomava era evitar locais frequentados por muitos brasileiros, como churrascarias, revelou a investigação paraguaia.

RESTAURANTES

Segundo o ministro Luis Rojas, da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) --que, junto à polícia brasileira, localizou Abdelmassih procurando por maternais com gêmeos matriculados--, "nos fins de semana ele ia comer em restaurantes exclusivos de Assunção".

Foi assim no último domingo (17), quando Abdelmassih e a mulher almoçaram no San Pietro, restaurante que se define como de "cozinha internacional", avaliado como um dos melhores --e mais caros-- da capital paraguaia. Era um dos preferidos do casal, segundo autoridades que investigaram a rotina da família.

Uma funcionária do San Pietro, desesperada com o movimento da imprensa em frente ao estabelecimento, disse ter muitos clientes brasileiros. "Só que eu não peço a ficha deles", disse, evitando qualquer associação entre o restaurante e o criminoso.

Na garagem de casa, Abdelmassih mantinha dois carros de luxo. Uma Mercedes E350 ano 2012 --avaliada, segundo um investigador, em cerca de US$ 60 mil-- e um Kia Carnival ano 2012, mais usado no transporte das crianças do ex-médico.

O Kia está em nome de uma empresa, que deve ser investigada por autoridades locais.


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