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Vítimas recebem ex-médico com gritos de 'monstro'
Após dividir cela com preso por contrabando, Roger Abdelmassih chegou a São Paulo e foi para Tremembé
Emocionadas, cinco mulheres foram ao aeroporto para ver o capturado e relataram alívio com sua prisão
De algemas e colete à prova de balas, Roger Abdelmassih chegou a São Paulo nesta quarta (20) sob gritos de "monstro, maníaco".
Cinco vítimas e uma multidão de curiosos o aguardaram no aeroporto de Congonhas, na zona sul, onde ele foi entregue à Polícia Civil.
Foragido havia mais de três anos, o ex-médico foi preso na terça (19) no Paraguai e ficou sob custódia da Polícia Federal até chegar em São Paulo.
Sua entrada na delegacia do aeroporto, onde assinou registro de captura e fez exame de corpo de delito, foi tumultuada. Seguranças e policiais fizeram cordão de isolamento e tiveram que conter tentativas de agressão.
As vítimas disseram fazer questão de vê-lo preso. Quando ele passou, xingaram-no e se emocionaram. "Para nós, é uma felicidade muito grande. E é liberdade, porque quando ele foi solto eu fiquei presa", disse Vanuzia Lopes, que afirmou ter ajudado a polícia a localizar Abdelmassih.
"Agora posso descansar. Ele olhou na minha cara, fiquei perto dele e ele viu que não tenho medo. Que ele viva muito, que apodreça na cadeia, amargue todo dia. Espero que ele encontre alguém lá dentro que faça com ele o que ele fez com a gente", afirmou Ivanilde Serebrenic.
O ex-médico foi levado para o presídio de Tremembé (a 147 km de SP), conhecido como "Presídio de Caras" por abrigar condenados famosos, como o jornalista Pimenta Neves e Alexandre Nardoni.
A Secretaria da Administração Penitenciária informou que Abdelmassih seguiu a rotina de outros presos ao chegar: entregou seus pertences, recebeu uniforme e kit de higiene e passou por avaliação física e psicológica.
Ele ficará em uma cela sozinho, isolado dos outros detentos, por um período de 10 a 30 dias. Nesta fase de adaptação, só poderá receber a visita de advogados.
ARROZ E FEIJÃO
Extraditado sumariamente por falta de documentos, Abdelmassih passou a noite numa cela em Foz do Iguaçu (PR) ao lado de um preso suspeito de contrabando.
Ele comeu a refeição servida no local --arroz, feijão, salada e carne-- e só teve direito a usar o telefone uma vez, para falar com a mulher.
Policiais paulistas disseram ter ouvido de colegas da Polícia Federal que o ex-médico aparentava estar deprimido e que, no trajeto até a capital, falou diversas vezes que pensava em se matar.
Ele contou ainda, segundo os policiais, que vivia com medo de ser preso. Em uma ocasião, revelou ter pegado uma arma e cogitado o suicídio porque achava que sua casa em Assunção estava cercada por policiais.
O ex-médico não prestou depoimento formal à Polícia Civil. Mas, segundo o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, ele contou que vivia no Paraguai desde a fuga e que nunca havia deixado o país.
"Ele alega inocência, diz que vai reverter a situação, mas que se arrepende de algumas coisas. Chorou bastante quando lembrou dos filhos." Segundo Gonçalves, Abdelmassih afirmou que era sustentado pela mulher.