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Raquel Rolnik

Sobre Minhocão e parques

Se quisermos que a USP seja verdadeiramente pública precisamos superar essa lógica do enclave

Desde a aprovação do novo Plano Diretor, os debates sobre o futuro do Minhocão se intensificaram. Isso porque o plano prevê "a gradual restrição ao transporte individual motorizado no elevado" e "sua completa desativação como via de tráfego, sua demolição ou transformação, parcial ou integral, em parque".

O Minhocão como via expressa para carros está, portanto, com os dias contados; o debate então tem se concentrado no seu destino: demolir ou reformar a via, transformando-a em parque elevado? Infelizmente, esse não é o principal dilema que o Minhocão, seus usuários e a população da cidade enfrentam hoje.

Virar parque não resolve o impacto que aquela estrutura monstruosa causa nas ruas que percorre --que viraram uma espécie de subsolo-- nem nos prédios em volta. Enfim, não soluciona o problema urbanístico daquele lugar. O elevado atravessa bairros residenciais e mistos da cidade, que se degradaram com sua presença; e mais: ajudou a promover o esvaziamento residencial desses bairros. Sua desativação coloca, então, antes de mais nada, a necessidade de retomar a função residencial da região, lembrando que hoje moradores de menor renda vivem nessa área graças à sua desvalorização. Aliás, a notícia do parque elevado já fez subir as expectativas de preços de imóveis no entorno...

Por outro lado, o projeto de derrubada do Minhocão impõe a necessidade de um plano urbanístico que considere alternativas de circulação leste-oeste e a absorção do fluxo que hoje passa pela via, com transporte coletivo de alta capacidade. Que alternativas seriam essas?

A questão não é, portanto, demolir ou fazer parque, mas sim pensar em uma intervenção na região que recupere a qualidade ambiental e urbanística, melhore a mobilidade na cidade e seja capaz de preservar a presença dos atuais moradores e de atrair novos.

É verdade que São Paulo precisa de parques locais. Urgentemente. Acabamos de ganhar um, no Butantã, o parque da Chácara do Jockey, terreno que pertencia ao Jockey Club e que a prefeitura resgatou para a cidade através da dação em pagamento de parte das enormes dívidas em impostos que o Jockey tem com o município. Pode ganhar outro, o parque Augusta, última área verde vazia em um bairro central que sofreu um boom recente de lançamentos imobiliários.

Assim como no caso da Chácara do Jockey a prefeitura não precisou desapropriar o terreno para evitar que mais uma gleba se transformasse em torres, é possível evitar esse destino no caso do parque Augusta. Como o Plano Diretor recém-aprovado classificou esse terreno como Zona Especial de Preservação Ambiental (Zepam), o potencial construtivo da área --se não utilizado no próprio terreno-- pode ser transferido para outro local da cidade. Os proprietários podem aproveitar essa transferência para construir em outros imóveis próprios ou mesmo vender o potencial.

Assim, a cidade ganha, a prefeitura não tem que gastar milhões de reais para desapropriar e o proprietário, embora deixe de obter o lucro esperado com uma grande operação imobiliária no local, não perde o valor econômico do terreno. Ao contrário do Minhocão, que requer soluções urbanísticas mais complexas, temos condições de ganhar já outros parques, como o parque Augusta!


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