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'Não sei como vou continuar vivendo', diz pai de Bernardo

'Morri', afirma juiz Aléssio Gonçalves, cujo filho morreu afogado na piscina da escola

Para ele, colégio mostra uma realidade para os pais, mas, no dia a dia, não investe na segurança das crianças

ANDRÉ MONTEIRO DE SÃO PAULO

"Eu morri, assim, eu morri." Com a voz rouca, em meio a choro e acessos de raiva, o juiz Aléssio Martins Gonçalves, 35, lembra a morte do filho Bernardo, 3, afogado na piscina da escola, em Moema (zona sul), na segunda-feira.

O menino participava de uma atividade na água, com mais dez crianças. Elas eram supervisionadas por uma professora e uma instrutora. Uma terceira profissional deixou o local no final da atividade.

Para ele, a escola CEB (Centro Educacional Brandão) - Comecinho de Vida não investe na segurança dos alunos.

Gonçalves diz que vai processar o colégio. Quer que o caso sirva de exemplo para outros pais, que devem cobrar mais funcionários para cuidar das crianças. Além de Bernardo, ele é pai de uma menina de 15 dias.

Folha - O sr. pretende acionar a escola na Justiça?
Aléssio Gonçalves - Vou acabar fazendo isso, porque é inadmissível a falha que acabou com as nossas vidas. Porque pra mim [o acidente] foi fruto da ganância, de não colocar a quantidade de pessoas suficiente para acompanhar as crianças na piscina.
São poucos funcionários e eles ainda tinham que fazer outras tarefas...
Não vai mudar em nada a tragédia que passei, mas vai evitar que eles repitam esses procedimentos. Que sirva de exemplo para outros donos de escola, que invistam nisso e evitem tragédias iguais.

Qual é o sentimento dos outros pais com o episódio?
Quando você vai visitar a escola é uma maravilha. Você acompanha uma aula de natação cheia de gente, professor, monitor, recreador. É praticamente um [profissional] para cada duas crianças. Mas, depois, você não tem acesso. Você pode marcar um dia, com antecedência, para ver a aula. Mas os pais não têm ciência de que te mostram uma coisa e, no dia a dia, a rotina é outra. Por isso acabou nessa tragédia.

Quem é o responsável?
Acho que a responsabilidade maior é da direção da escola. É óbvio que você pode culpar a pessoa que estava lá, que deveria ter olhado, mas de repente era uma sobrecarga de trabalho, de função. Então, na verdade, eu acho que é ganância mesmo da escola, de cobrar uma mensalidade de R$ 2.700 e não investir na segurança das crianças.

Você está conversando com outros pais?
Estamos mandando mensagens para que eles atentem pra isso, pra que tomem cuidado e que adotem todas as cautelas necessárias. A gente bota nosso filho na natação para que ele tenha segurança, para que ele consiga lidar com a água. Mas, pelo amor de Deus, isso precisa ser feito com todo o carinho possível. Ele tinha três anos de idade, era um neném ainda.

Como vocês escolheram a escola?
Quando a gente escolheu a escola, eles mostraram uma aula de natação. Tinham duas piscinas, uma bem pequena e uma maior. Nós passamos pela piscina menor, a professora estava dentro, tinha umas duas ou três pessoas olhando e um número reduzido de alunos. Depois, até avisaram pra gente que ele iria pra piscina grande, mas com boia e com gente olhando sempre.

Como você se sente?
Eu morri, assim, eu morri. Esse menino era um menino de ouro. Era inteligente, amoroso, carinhoso, nunca teve nenhum problema de saúde. Ele chamava a mãe de linda. Me dizia que queria ser como eu. Pra gente é o fim, é o fim. Não sei como vou continuar vivendo. Essa tragédia não pode se repetir.


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