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Encontro no Capão

Projeto leva crianças e adolescentes a praticarem esporte e dança no extremo sul da cidade de São Paulo

LEANDRO MACHADO DE SÃO PAULO

A nadadora Nicole Fernandes, 11, ganhou neste ano seu primeiro título paulista no circuito estadual de maratonas aquáticas -em provas de até 8,5 km. No ano passado, quando disputou o torneio pela primeira vez, a menina travou na largada: "Tremi e comecei a chorar".

"Eles perdem o medo com o tempo", diz André Petrozziello, 39, professor de educação física e um dos três voluntários que tocam o Talentos do Capão, projeto que dá aulas gratuitas de esporte para crianças e adolescentes do Capão Redondo, periferia da zona sul de São Paulo.

O grupo surgiu no fim de 2010 com 13 alunos que tinham ficado sem aula de natação após um clube do bairro falir. Hoje são cerca de 150 em mais três modalidades: futebol, jiu-jítsu e balé.

O grupo sobrevive, basicamente, de doações de clientes do francês Ici Bistrô, que fica em Higienópolis, a 23 km do Capão Redondo.

O maître do restaurante, Valdeci Gomes, 40, é pai de um aluno e, "com a permissão dos chefes", arrecada doações para o projeto.

Gomes, que mora no Capão, já conseguiu dinheiro, hospedagem, uniforme e até comprou um micro-ônibus com dinheiro de uma rifa para levar as crianças aos torneios e treinos. Antes, alguns alunos pegavam até três ônibus para ir ao treino na represa ou no CEU Capão.

Os donos do Ici, Benny Novak e Renato Cides, entusiasmam-se com o projeto. "Ele ajuda a tirar as crianças da rua", diz Novak.

BALÉ NO QUINTAL

Ao lado de 30 crianças, Petrozziello conta, orgulhoso, os dois anos de história. "Reunimos os pais e, como não tínhamos piscina, resolvemos treinar na represa de Guarapiranga."

Com os novos alunos veio também o problema: como treinar tanta gente com pouco dinheiro? A inscrição de cada etapa do circuito custa R$ 48 por atleta, nas provas de 1 km ou 2 km. Nas mais longas, de 8,5 km ou 24 km, sobe para R$ 90.

"Muitas crianças vêm de famílias pobres e não podem pagar", diz o professor. O grupo só consegue competir quando as doações bancam as despesas. "Somos um clube comunitário. Um pai dá o bolo, outro, o lanche; do restaurante vêm as doações."

No domingo passado, Igor Ribeiro, 15, nadou por 5h31 seguidas em uma prova de 24 km entre o Guarujá e Ubatuba. "Tenho 45 anos e não nadei isso na vida inteira", brinca Renato Cides, do Ici, em Higienópolis.

Na sede do grupo -a casa de Petrozziello, que fica em uma pequena rua sem saída do Capão- há o quintal de ensaios das 12 meninas que dançam balé. Em um ano, elas ganharam dois festivais em São Paulo.

"Vamos colocar os espelhos e as barras nos cantos do quintal", conta Petrozziello, que sonha com uma sede ali mesmo, no Capão.


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