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Em coma, grávida dá à luz após ser baleada na cabeça em assalto

A menina Gabriela está na UTI, passa bem e já apertou o dedo do pai; ela deve ir para o berçário hoje

Segundo hospital, ferimento na mãe é muito grave; 'a gente tem de acreditar em milagres', diz assessor

LAURA CAPRIGLIONE DE SÃO PAULO

Passava das 16h de ontem quando o jovem Josemar Araújo de Oliveira, 27, entrou na UTI neonatal do Hospital Municipal do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, para ver a filha, Gabriela, nascida havia poucas horas. A menininha apertou-lhe o dedo. Estava bem.

"Gabriela é o único sopro de esperança no meio desta tragédia", disse a amiga de infância da mãe da menina, chorando. Na UTI de adultos do mesmo hospital, Daniela Nogueira de Oliveira, 25, encontrava-se entubada, dependente de um respirador artificial, em coma profundo.

Na cabeça, a mãe ainda guardava a bala de revólver que, disparada por um assaltante na noite anterior (8/1), certeira, entrou-lhe pelo lado esquerdo do rosto e alojou-se no meio do cérebro. Operá-la para extrair o projétil agravaria ainda mais o quadro desesperador.

"Estamos com todos os cuidados, mas o prognóstico é... Milagres existem, a gente tem de acreditar neles, mas lamentavelmente o trauma foi de muita gravidade", disse Waldyr Jorge, assessor da diretoria do hospital.

Casada há quatro anos com o distribuidor de alimentos Josemar, Daniela comemorava o finzinho da gestação de Gabriela (já havia cumprido 36 das 40 semanas). Decorado todo em rosa, o quarto da primeira filha do casal estava pronto e o parto, marcado para o dia 18.

A gestante, no entanto, não pretendia largar o posto de secretária a não ser no último instante. "Ela não queria parar antes. Acreditava que mãos e pés inchariam com a inatividade", disse a amiga no hospital.

Quando o crânio de Daniela encontrou-se com a bala disparada pelo assaltante, ela acabava de voltar do trabalho. Como todos os dias, estacionou o seu Ford Fiesta prata na rua vizinha ao condomínio Horto do Ipê, onde mora, e começou a caminhar em direção a seu prédio.

A polícia já localizou testemunha que diz ter visto quando uma motocicleta amarela, piloto e garupa a bordo, aproximou-se da gestante, barriga proeminente. Os dois anunciaram o assalto e tentaram levar a bolsa de Daniela, que a segurou junto ao corpo. A testemunha disse que foi o piloto o autor do único disparo, direto na cabeça.

Caída no chão, ainda segurando a bolsa (os assaltantes acabaram fugindo sem levar nada), Daniela era atendida pelos homens do resgate do Corpo de Bombeiros, quando o marido, Josemar, que estava em casa, olhou pela janela e viu-a. Ao irmão, Gilsemar Araújo de Oliveira, o marido contou que achou que Daniela estava dando à luz na rua, e desesperou-se. Foi pior.

GLASGOW 3

A gestante deu entrada no hospital do Campo Limpo, às 21h04 de terça. Foi avaliada como um caso que os médicos classificam como Glasgow 3 -estava em coma, com um ferimento gravíssimo na cabeça, sem nenhum contato, sem qualquer reação ou possibilidade de responder a estímulos mecânicos, visuais ou verbais.

O risco era de morte iminente tanto da paciente quanto do bebê que ela carregava.

Socorristas, ginecologista-obstetra e neurocirurgião do hospital reuniram-se para avaliar o quadro. Às 21h10, seis minutos depois da entrada da jovem no hospital, iniciava-se a cesárea de emergência, para fazer o salvamento da criança.

Nascida com 2,52 quilos, estatura de 42 centímetros, Gabriela sofreu uma falta de oxigênio momentânea, mas na manhã de ontem já se encontrava estável. Deve ter alta da UTI neonatal ainda hoje, quando irá para o berçário e de lá para casa.

"O tiro foi por pura maldade. Uma mulher no finalzinho da gravidez não oferecia aos bandidos nenhuma ameaça real", disse Jaime Pimentel Júnior, delegado plantonista do 37º Distrito Policial, no Campo Limpo.

Carros e homens da PM em número não revelado ocuparam durante todo o dia de ontem a vizinhança do prédio onde ocorreu o crime, em busca de informações sobre os culpados.

O porteiro de um condomínio próximo ao local onde o crime ocorreu, que pediu anonimato, disse ontem que as câmeras do residencial registraram parte da ação dos bandidos.

"A polícia já pegou o material. Dá para ver os homens seguindo o carro dela em uma moto e, depois, um deles passa correndo", disse ele.

Geraldo Morais, 45, presidente do Conselho de Segurança do Campo Limpo, diz que o bairro é calmo. Na semana passada, sete pessoas foram assassinadas no Campo Limpo, na primeira chacina do ano em São Paulo.


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