Folha de S.Paulo

São Paulo é reduto de 'viciados em comida'

BRUNA HADDAD DE SÃO PAULO

Rodrigo Saraiva, 29, sempre ouviu do pai que não se deve economizar com comida. "Acho que estou elevando esse conselho para outro patamar", brinca o diretor de arte de cinema, que vive em São Paulo. Ele gasta cerca de 40% do salário em restaurantes. Ao lado do namorado, sai, em média, cinco vezes por semana atrás de novos lugares.

Rodrigo gosta de comer, conhece lugares caros, gasta dinheiro com isso. Mas não é exatamente um gourmet -segundo o "Houaiss", aquele "que se regala com finos acepipes e bebidas".

Para definir tipos como ele, popularizou-se na Inglaterra, nos anos 1980, o termo "foodie", que descreve aficionados por comida que não escolhem o restaurante pelo preço.

Em comum, os "foodies" paulistanos têm menos de 30 anos, ganham salários entre R$ 3.500 e R$ 12 mil e não têm filhos. Alguns dedicam até 60% da renda mensal às experiências gastronômicas.

A cidade, famosa pela gastronomia, favorece esse hábito. Hoje, segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), São Paulo tem 13 mil restaurantes.

É comum a formação gastronômica desse grupo vir da família. Na infância, a administradora Ana Toshimi, 29, costumava sair para jantar com os pais e o irmão toda sexta-feira.

Ela guarda na memória os momentos em que provou lagosta - "nem sabia por onde começar"-, ovas, "escargot", e sushi de vieira.

Hoje, ao lado do marido, Ana sai ao menos uma vez de segunda a sexta e sempre aos fins de semana. "Não que seja bom para o bolso", brinca.

DESCOBERTAS

Parte da graça de ser um "foodie" está em encontrar lugares novos. "Quando descobre um lugar bom e barato, o 'foodie' de verdade não vai pensar em status", define Nina Horta, dona do bufê Ginger e colunista da Folha.

Ir a casas menos óbvias é uma opção para os que têm baixo orçamento. Outras alternativas são eventos como o Chefs na Rua, que atraiu uma multidão na Virada Cultural paulistana.