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Suzana Herculano-Houzel

Velhinhos crédulos

Por que nossos avós têm muito mais chance do que nós de cair em golpes financeiros?

De acordo com um estudo da seguradora MetLife, idosos nos EUA perderam, só em 2011, ao menos US$ 2,9 bilhões em esquemas financeiros, envolvendo desde pequenos golpes domésticos até fraudes mais elaboradas. O FBI e a FTC (Federal Trade Commission) daquele país confirmam que os idosos são especialmente vulneráveis a fraudes.

Por que nossos avós têm muito mais chance do que nós de cair em golpes financeiros, do mais óbvio e-mail-armação ao cartão de crédito "grátis"? Por que acreditam no jovem mau-caráter que oferece ajuda com o caixa automático?

A suspeita da FTC e do FBI é que idosos são mais vulneráveis a fraudes e golpes não por serem ingênuos ou menos capazes cognitivamente, e sim por não detectarem sinais que inspiram desconfiança nos jovens.

Uma pesquisa recente dos departamentos de Psicologia, Geriatria e Negócios da Universidade da Califórnia confirmou essa suspeita. A equipe pediu a voluntários jovens e idosos que avaliassem quão "confiáveis" ou "não confiáveis" lhes pareciam pessoas desconhecidas apresentadas em fotografias.

Esse tipo de julgamento envolve a ínsula anterior, parte do córtex que monitora o estado emocional do corpo e o representa como sensação "instintiva" --aquele "aviso" visceral, ou pressentimento, de que não é para assumir um risco, entrar naquela ruela ou entregar seu cartão do banco ao jovenzinho simpático. Essa capacidade da ínsula de representar o estado emocional do corpo, contudo, diminui com os anos.

A equipe da Califórnia suspeitou, portanto, que a credulidade dos velhinhos correspondesse a uma menor capacidade da ínsula anterior de reagir a imagens de pessoas não confiáveis. De fato, enquanto jovens no estudo julgaram nada confiáveis rostos que tipicamente inspiram desconfiança, com uma forte ativação da ínsula anterior, os idosos mostraram uma ativação quase dez vezes menor --e avaliaram esses rostos como praticamente neutros.

Idosos, portanto, parecem perder a capacidade de registrar na ínsula anterior o aviso visceral de que alguém não é confiável, o que pode bastar para fazê-los entregar seu dinheiro ao primeiro salafrário que aparecer. O divertido é pensar que um bom remédio para isso é a inversão do conselho usual aos jovens de pedir ajuda aos mais velhos: nesse caso, os idosos têm muito a lucrar pedindo ajuda à ínsula anterior dos mais novos.


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