Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Equilibrio

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

'Falta de amor não é o maior problema das grandes cidades'

Viver dignamente traz mais alegria que a busca pelo par ideal, diz filósofo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois de publicar "Amor - Uma História", o filósofo Simon May, professor do King's College, em Londres, prepara seu próximo livro: "Love - A Phenomenology" (amor, uma fenomenologia). May é conhecido fora do Brasil pela obra "Thinking Aloud" (pensando em voz alta, 2009), que, na época, foi escolhida como um dos livros do ano pelo jornal "Financial Times". Em entrevista à Folha, ele fala como a filosofia pode dar respostas sobre o amor.

Folha - São Paulo está cheia de cartazes pedindo "mais amor". Essas manifestações tem a ver com a sua tese sobre o amor enquanto religião?

Simon May - Sim, isso tem a ver com enxergar o amor como a solução para todos os problemas. Uma cidade como São Paulo deve ter problemas bem maiores que a falta de amor, mas hoje as pessoas subestimam o poder das questões sociais como componentes da felicidade. Viver em paz, com emprego e dignidade, provavelmente traz mais alegria duradoura que o amor.

Se o amor é uma religião, como você explica o troca-troca de parceiros? Crentes não trocam de igreja muitas vezes.

Trocar muito de parceiro não contradiz a tese de que o amor é uma religião. Um dos motivos para tanta troca é que estamos tentando encontrar o par perfeito, a pessoa que irá preencher a ânsia por um amor incondicional, eterno. Como a ideia toda é impossível, trocamos de par a vida inteira. Quando os relacionamentos terminam, em vez de culpar o modelo, culpamos a outra pessoa.

Você escreve que tudo mudou no último século, menos a visão sobre o amor. O sentimento não é mais valorizado hoje?

O amor fica cada vez mais valorizado à medida que a sociedade se torna mais individualista e outras formas de pertencimento no mundo declinam. O que não mudou é a tentativa de comparar o amor humano ao amor divino. Isso gera pensamentos do tipo "se você me amasse incondicionalmente, não faria x e y".

Existe um modelo de amor mais saudável?

O amor é a paixão que sentimos por aqueles que suscitam em nós a esperança de uma fundamentação indestrutível para a nossa vida. É uma necessidade de raízes, de encontrar um sentido para nossa própria existência. Poucas pessoas podem nos dar essa segurança, e é por isso que o amor é tão raro.

A solução é compreender o sentimento do modo correto e, assim, não ficar tão arrasado quando o amor se mostrar destrutivo ou não correspondido. Também é preciso buscar o amor em outros lugares, não só em um parceiro sexual.

Hoje, amor é tema de livros de autoajuda: as pessoas querem resolver seus problemas. É papel da filosofia dar respostas?

Faz tempo que o amor não é um tema central para a filosofia. Até o século 17 era importante para os grandes filósofos: Platão, Aristóteles, Agostinho e outros trabalharam em definições detalhadas sobre a natureza do amor. Hoje, só questionamos qual seria a melhor forma de alcançá-lo ou de mantê-lo.

Acho que é papel da filosofia sugerir alguns caminhos, sim. O mais importante é: certifique-se de que você e seu parceiro têm um profundo sentimento de enraizamento um no outro. Esse sentimento é inconfundível, é como se os dois fossem maçãs da mesma cesta, mesmo que cada um tenha vindo de uma origem muito diferente.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página