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Carismáticos viram porta de entrada para a igreja

GRUPOS DA ONDA PENTECOSTAL ATRAEM JOVENS COM VOCAÇÃO RELIGIOSA PARA SEMINÁRIOS E INSTITUIÇÕES CATÓLICAS

FABIANO MAISONNAVE DE SÃO PAULO

A irmã mineira Maria Luz, 33, trocou o quarto ano da faculdade de fisioterapia pela Toca de Assis, fraternidade inspirada em São Francisco voltada para o trabalho social com moradores de rua.

O professor de educação física paulistano Fábio Bonciani, 32, sentiu o chamado à vida sacerdotal após cinco anos como voluntário nas missas do padre Marcelo Rossi.

Influenciado pelo canal de TV Canção Nova, Jorge de Souza, 21, trocou há três anos o sertão do Sergipe pelo rígido seminário Mater Ecclesiae, em Itapecerica da Serra, cidade da Grande São Paulo.

Já Paula Leme, 27, formada em turismo, reencontrou a vida católica ao começar a frequentar as "cristotecas", um tipo de festa onde são tocadas músicas religiosas com "pegada" dançante e onde não são comercializadas bebidas alcoólicas. Hoje é leiga consagrada da associação Aliança de Misericórdia, que cuida de populações de rua.

À primeira vista, são histórias razoavelmente diferentes de encontro com a vocação religiosa. Todas, porém, tiveram em sua origem o que os teólogos chamam de "onda pentecostal", da qual a Renovação Carismática é apenas a corrente mais conhecida dentro do catolicismo.

"A renovação tem sido a principal porta de entrada para a igreja", diz a irmã Luz, na Toca de Assis desde 2001. "Quando os jovens voltam à igreja, encontram o seu lugar, a sua vocação", afirma.

"Cerca de 90% dos nossos 140 seminaristas participam de grupos carismáticos", estima Santiago Artero, 47, professor de teologia e diretor do Mater Ecclesiae, um seminário para futuros padres de dioceses pobres mantido pelos Legionários de Cristo, congregação religiosa conservadora.

Embora incluam personagens tão diversos como o padre Marcelo e missionários que dormem com moradores de rua, os movimentos surgidos da onda pentecostal guardam várias semelhanças entre si, como celebrações com muita música em alto volume, palmas e movimentos corporais, realçando o caráter emocional da religião católica.

Também têm comunidades com líderes fortes, como o padre Jonas Abib, criador da Canção Nova, e são extremamente críticos à Teologia da Libertação, que se aproximou de movimentos sociais de esquerda nos anos 1970 e 1980.

Outra tendência é que os jovens do sexo masculino prefiram seminários diocesanos, em detrimento das ordens e congregações históricas, como dos franciscanos e dominicanos, as chamadas vocações religiosas.

Atualmente, cerca de 63,7% dos padres são diocesanos. Há 40 anos, esse percentual era de 38,5%, mostram dados oficiais da igreja.

Como padres diocesanos, levarão uma vida menos sacrificada: não há voto de pobreza, morarão em casas paroquiais e estão livres de trabalhos mais árduos, como a transferência para missões em regiões e países distantes.

"O fato é que vivemos num mundo que não caminha muito para que as pessoas despertem uma vocação nessa linha [das congregações históricas]", afirma Bonciani, que estuda no seminário da diocese de Santo Amaro (sul de São Paulo), o mesmo que formou o padre Marcelo.

Outra mudança na nova geração é a relação das família com a igreja. Se em um passado já distante havia o costume de as famílias, sempre numerosas, escolherem um dos filhos para seguir a carreira religiosa, hoje há maior resistência dos pais.

"Minha família ainda não aceita a vocação", diz a irmã Luz. "Antigamente, as pessoas eram até entregues aos mosteiros, como dotes. Por isso, existem muitas feridas na igreja. Hoje, é muito diferente: vem quem quer, quem sentir o chamado de Deus."


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