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Público cativo

Ex-detento abre loja virtual que só vende produtos permitidos pelo departamento penitenciário dos EUA e fecha até mesmo contrato com gravadora

DO “NEW YORK TIMES”

A Sendapackage.com pode ser descrita como uma versão penitenciária da Amazon.com. Ela oferece aos 50 mil detentos da população carcerária do Estado de Nova York centenas de itens para aquisição e entrega em suas celas -refrigerantes, cigarros, ravióli em lata, agasalhos de algodão e música em fitas cassete, o único formato que os regulamentos dos presídios permitem.

Enviar pacotes para os parentes que estão servindo sentenças pode ser um processo kafkiano, como sabem centenas de famílias. Além da dificuldade de ir a diversas lojas a fim de montar o pacote e depois ter de levá-lo ao correio, há também o labirinto de regras que definem o que pode ser enviado.

O Departamento de Penitenciárias e Supervisão Comunitária do Estado de Nova York publica uma lista, hoje com mais de 20 páginas de extensão, explicando as regras a quem tem direito a enviar pacotes: alimentos não podem conter sementes de papoula; as lixas de unhas devem ser "não metálicas"; cuecas e calções devem ser de uma só cor.

"Eu fiquei imaginando que era preciso haver um jeito melhor", diz Chris Barrett, fundador da Sendapackage.com, que parece ter descoberto esse jeito na internet. Os itens que o serviço de Barrett oferece on-line foram selecionados de forma a cumprir as normas quanto a presentes impostas pelo departamento penitenciário. A companhia se define como "a superloja dos detentos de Nova York".

A Sendapackage.com, criada há dois anos, tem um mito próprio de criação que é excepcional. A ideia surgiu em 2008, pouco tempo depois que o irmão mais jovem de Batterr foi sentenciado a uma pena que pode variar de 25 anos a prisão perpétua por homicídio.

Barrett, que já serviu sentença de seis anos por posse de armas relacionada ao crime organizado, tentou enviar desodorante e um pacote de salame para o irmão na penitenciária.

Mas ele não estava ciente de que os produtos haviam sido produzidos com álcool, o que os torna ilegais.

"Depois, comecei a conversar com outras pessoas -mães e mulheres que não conheciam as regras, não tinham tempo para fazer compras e estavam enfrentando o mesmo problema", diz Barrett. "Comecei a perceber que existia uma necessidade ali, uma necessidade real."

Àquela altura, ele não tinha experiência como empreendedor digital. Por isso demorou um ano para definir os preços dos produtos, criar um site e desenvolver um relacionamento com fornecedores.

Em 2010, ele persuadiu um comerciante a bancar a ideia, com US$ 1,5 milhão.

Em seis meses, Barrett alugou um espaço de armazém e ocupou as prateleiras com os itens básicos: bonés de beisebol, latas de molho à bolonhesa. Com o passar do tempo, expandiu o estoque, que inclui relógios, balas de goma em formato de urso, fones de ouvido e hidratantes.

No ano passado, ele fechou o seu maior e mais promissor acordo até o momento, convencendo a Universal Records a produzir uma linha dos maiores sucessos nos presídios em fitas cassete.

CDs não são permitidos nas prisões porque podem ser quebrados e usados como armas improvisadas.

Argumentando ter acesso a uma audiência literalmente cativa, Barrett persuadiu a Universal a produzir uma seleção limitada de fitas de R&B e hip-hop.

O departamento penitenciário apoia discretamente os esforços de Barrett. Recusando-se a comentar a Sendapackage.com, Tom Mailey, porta-voz do departamento, declarou que "qualquer vendedor que cumpra as regras e regulamentos e normas quanto a pacotes funciona bem para os nossos fins".

Em um dia comum, a Sendapackage.com atende até 40 pedidos. Um terço deles são feitos por parentes de detentos; os demais vêm do interior das penitenciárias, por telefone ou correio.

Barrett diz que o pedido médio tem valor de US$ 110. Com sete funcionários, ele no momento atende às 58 penitenciárias estaduais de Nova York e gostaria de expandir suas atividades à vizinha Pensilvânia e a Estados como Texas e Califórnia.

Depois de pagar pelo estoque, a Sendapackage.com fatura cerca de US$ 800 mil ao ano. Ele diz que está só esperando juntar capital para crescer. "Ainda não estamos ganhando muito", diz.

Embora haja quem possa hesitar diante de uma base de clientes formada por criminosos, Barrett oferece aos detentos as mesmas promoções e vantagens que as empresas de varejo concedem aos seus clientes do lado de fora: um desconto de 10% para pedidos feitos perto da data de aniversário do comprador, por exemplo, e doa 5% dos lucros a uma organização assistencial chamada In Arm's Reach, que ajuda crianças cujos pais estão encarcerados.

O modelo de negócios da Sendapackage.com aparentemente não sofre com as recessões, e Barrett aponta que sua audiência é leal.

"Jamais vi um negócio no qual você possa conservar um cliente pelo mesmo tempo que conservamos os nossos", afirma.


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