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Finalista - Alice Freitas

REDE ASTA www.asta.org.br

Designer da inclusão

Casada e com um filho, a advogada de 34 anos, desenvolveu uma rede que visa diminuir a desigualdade social e elevar a autoestima de mulheres de baixa renda, que criam produtos artesanais e brindes exclusivos com materiais descartados pelas empresas; cofundadora da Rede Asta, fundada em 2007, gerencia 20 funcionários e um orçamento de R$ 1,74 milhão (2013)

ROBERTO DE OLIVEIRA ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O que um retalho de oncinha, um banner empoeirado e uma garrafa PET suja têm em comum? Todas essas peças formam pedacinhos que estão ajudando a montar novos caminhos: do barraco às margens de um rio-esgoto no Rio de Janeiro a um grupo de vovós que encontrou no trabalho uma razão para viver.

Os 34 anos de vida da advogada de formação e empreendedora de vida Alice Freitas têm sido construídos assim: de juntar cacos que ela encontra por onde passa. Pouco importa a distância.

Em comum, tudo isso poderia ir parar no lixo, mas se tornou um sopro de esperança para muita gente simples. "Essa é a minha missão", diz ela. "Uma trajetória de somar experiência e repassar know-how para ensinar e capacitar alguém para criar."

Desde 2007, Alice está à frente da Rede Asta, negócio social que trabalha com associações, cooperativas e grupos produtivos formados majoritariamente por mulheres --o nome vem de Astrea, a mais pura das deusas gregas.

Num primeiro momento, a proposta parece simplista: transformar resíduos em arte, usando a confecção de artesanato, dando um "up" na economia solidária e no desenvolvimento sustentável.

Na prática, porém, precisa haver muito tato para saber quem escolher e o momento exato no qual explicar para uma artesã que aquele produto, que ela se debruçou com carinho por dias, não se enquadra no quesito "vendável", e tentar, com muita sabedoria, transformá-lo.

Com slogan "bom, bonito e do bem" e proposta de valor "inclusivo para quem faz, exclusivo para quem compra", a Asta trabalha hoje com 51 grupos que envolvem 700 artesãs --90% delas são mulheres, com renda que varia de um a dois salários mínimos. Gente que vive em favelas não pacificadas, sem saneamento, com caixa d'água furada por troca de tiros.

O LADO DE LÁ

Alice descobriu esse mundo há 12 anos, quando viajou quatro meses pela Ásia com uma amiga. Antes de irem, as duas passaram sete meses conhecendo o que de social existia "do lado de lá".

Lição de casa pronta, seguiram jornada para, além de se deslumbrarem com o outro lado da Terra, cumprirem a tarefa de pesquisar três temas: saúde, geração de renda e educação.

Em Bangladesh, aprenderam sobre microcrédito. Embarcaram numa viagem de ônibus que levava computadores para aulas de informática no interior da Índia.

"Nunca mais seria a mesma", conta Alice, ainda com um ar de perplexidade de ter saído viva de uma jornada repleta de contornos insólitos, com ameaça até de estupro.

Depois do regresso, trabalhou na ONG AfroReggae. Mas a garota classe média de Nova Friburgo (RJ), que fez intercâmbio na Tailândia aos 15 anos, queria pilotar seu próprio negócio. E é da rua General Glicério, uma das mais aprazíveis de toda a capital fluminense, sede da Asta, que Alice se conecta com produtores e compradores.

Para fazerem parte da rede, os grupos precisam ter mais de três pessoas trabalhando, estar em lugar de baixa renda e, é claro, ter um produto "vendável". A Asta não forma as equipes. Suas designers orientam, palpitam, sugerem, ajudam a criar e fornecem insumo.

"Não é para comprar para ajudar porque é coitadinho, pobrezinho", explica Alice. "Não! É porque o babado é bacana, tem design e ainda vai mobilizar a cadeia de produção do bem. É um artesanato de sobrevivência."

Quatro vezes ao ano, a Asta distribui cerca de mil catálogos para a venda porta a porta. A comercialização também é feita pelo site www. redeasta.com.br.

Hoje o foco está na produção de brindes sociais ecológicos para empresas, que fornecem insumos para que as artesãs trabalhem na criação. Banners viram bolsas, restos de jornal se transformam em porta-canetas.

"A inovação é dar um destino para aquilo que seria descartado. É a transformação do resíduo", diz a analista de comércio exterior Rachel Schettino, 36, amiga de Alice e cofundadora da Asta.

Num mercado de vibrações tão instáveis, a racional e focada Rachel admira a persistência da amiga e sócia. "Ela não desiste", diz. "A Alice é como um balãozinho. Eu? Sou o barbante que a prende, que a puxa para a Terra."


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