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Programa revela como os candidatos de fato são
INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHANão há melhor lugar para conhecer um candidato, ou todos, do que o horário eleitoral gratuito. Ali, ao contrário do que diz a lenda, é onde eles se desnudam.
Os cronistas políticos dizem que eles não sabem de nada. Que vivem nas mãos dos marqueteiros. Devem estar certos, pois conhecem a cozinha da política.
Visto de fora, não é bem assim. O cara do marketing é apenas aquele que formata ideias do candidato, ou do partido. Eles produzem a imagem que o candidato quer nos vender, é certo. Mas a imagem é o candidato. Ela irrompe mesmo quando ele não quer.
Ali saberemos, por exemplo, que Dilma não é mais a moça simpática da campanha passada. Agora é uma gerente e fala como tal: para ela, é preciso ser durona para dirigir este país.
Aliás, este país de sonhos, dizem as imagens do seu programa: creches, escolas, hospitais, plataformas de petróleo, usinas --tudo funciona maravilhosamente. Tudo asseadinho. Tudo brilhante. É o país onde eu queria viver, se existisse. Um paraíso malufista, cheio de obras por todo canto, mas bom para os pobres. O horário de Dilma é o de um sonho de nação.
Eu não queria viver no pesadelo que descreve Levy Fidelix: ele garante que ninguém aqui sai na rua e tem certeza de que vai voltar! Fidelix é a expressão pequeno-burguesa da eleição, no sentido mesquinho do termo. Bem diferente do solene Eymael, que promete governar com a Constituição. Eis a alma de Eymael numa frase: ele queria ser um aristocrata, é só um pedante.
O mundo de Aécio Neves não traz grandes surpresas. É a mesma falta de ideias do PSDB de 2010. Ele faz cara de mau e denuncia a corrupção, os erros. Ele se faz de bravo, mas no fundo é um boa-praça, quem não percebe? Terá mais chance de ganhar quando expuser seu jeito simpático, em vez de nos ameaçar com a iminente invasão cubana e apelar ao "Brasil guerreiro". A questão é: será que quer mesmo ganhar?
Marina chega espremida no tempo e despojada. Que roupa ela usa? De crente ou bicho-grilo? Ou de crente bicho-grilo? Candidata boa moça, garante que no Brasil há lugar para todos: a nova política renova o mito do país harmônico. Marina se queixa da velha política, que a atinge com mentiras. A boa moça vira vítima. Eis seu problema posto às claras no tão difamado, porém tão informativo horário político: quem quer uma vítima para presidente?