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Análise
Blog de projeções do "NYT" concentra atenção e ameaça mudar a cobertura
NELSON DE SÁ DE SÃO PAULOOntem, tanto quanto o futuro dos EUA, os eleitores americanos decidiam o futuro do jornalismo.
A inovação na cobertura deste ano não foi o Empire State iluminado como gráfico pela CNN ou a operação da Fox News com o Twitter. Foi o blog de projeções de Nate Silver, intitulado 538, número de delegados no Colégio Eleitoral, e incorporado pelo "New York Times".
Silver fechou suas apostas, a partir de 12 pesquisas públicas, em 90,9% de chance de eleição para Obama contra 9,1% para Romney.
Um outro dado, mais significativo para o jornalismo: de dez visitas ao site do "NYT" atrás de política, anteontem, sete foram ao 538. Segundo a editora-executiva, Jill Abramson, "está trazendo tráfego imenso" e "o mais interessante é que muito do tráfego vem apenas para o Nate".
A audiência estava atrás das estatísticas, das previsões com maior base na realidade, e não dos comentaristas de sempre, "pundits", no nome americano. Daí estar em jogo, na aposta de 9 para 1 em Obama, não só o futuro dos EUA, mas do jornalismo.
Aos 34 anos, Nate Silver chamou a atenção há dez, ao criar um sistema para prever o desempenho de jogadores de beisebol, que acabou comprado por um site. Há quatro, na última campanha, passou a fazer previsões eleitorais no Daily Kos e logo depois em seu próprio blog. Acertou em 49 dos 50 Estados.
Neste ano, levado pelo "NYT" ao alto da home page, abaixo do logotipo, ameaça fazer com a cobertura política o que aconteceu antes com a esportiva, nos EUA: o domínio das estatísticas.
O paradigma é o beisebol, esporte muito ligado a números desde o século 19, o que foi potencializado nos anos 60 e depois nos 80 com os saltos em computação.
A repercussão política do 538 foi tamanha que, nas últimas semanas, atraiu ataques de "pundits" como Joe Scarborough, do MSNBC, e David Brooks, do próprio "NYT". E anteontem Silver foi entrevistado pelo comediante Stephen Colbert, que faz o papel de um comentarista no canal Comedy Central:
"Você está tentando desempregar a nós, 'pundits'? A CNN não precisa de mais ajuda para isso." (risos)
"Não sou muito favorável aos 'pundits'. Se estivessem na cédula contra..."
"... o ebola." (risos)
"Eu poderia votar no ebola." (mais risos)
Além de Nate Silver e comentaristas políticos, havia mais em jogo, ontem.
Redes de televisão e agências passaram o dia cercando a ansiedade de seus próprios jornalistas pelos dados da boca-de-urna, que alimentam suas projeções.
Queriam evitar vazamento por meio de redes sociais, em disputa tão próxima, e adotaram até "sala de quarentena". E nada de "chamarem" um vencedor antes da hora, ao contrário do 538.
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