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Cybele Oliveira

Vencedora

Instituto Chapada de Educação e Pesquisa | www.institutochapada.org.br

Aos 45 anos, a educadora é a mentora e diretora-executiva do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa, que contribui para a melhoria da educação pública por meio do apoio à formação continuada de educadores e gestores educacionais

Tecelã da educação

Amor 'gigantesco' e vontade de mudar tudo a sua volta levaram a 'doce general' a deixar Salvador para transformar a escola pública do sertão baiano

Fotos Na Lata
Cybele Oliveira, na vila de Caeté-Açu (BA)
Cybele Oliveira, na vila de Caeté-Açu (BA)
MARIANA BERGEL ENVIADA ESPECIAL À CHAPADA DIAMANTINA (BA)

Repetir de ano foi a primeira grande transformação na vida de Cybele Amado de Oliveira. Aos sete anos, a sobrinha-neta de Jorge Amado não conseguiu acompanhar o desenvolvimento de sua turma.

Para descobrir o que havia acontecido, ela contou com uma rede, formada pelos pais -uma contadora de histórias e um piloto da Aeronáutica- e por uma terapeuta.

Foi dessa forma que descobriu que o método de alfabetização usado em sua escola, o Casinha Feliz, baseado em figuras e fonemas, havia se tornado, para ela, uma "casinha infeliz". Cybele, hoje com 45 anos, entendeu naquela época que trocava letras.

Conseguiu reverter o problema. Mais do que isso, revolucionou seu breve histórico escolar -de aluna repetente no começo do ensino fundamental, passou a líder de classe ainda antes do início do ensino médio.

Decidiu fazer o papel que outras pessoas haviam protagonizado em sua vida anos antes: aos 13 anos de idade, começou a auxiliar colegas de escola que tinham dificuldade em matemática.

Na adolescência, distribuía mingau nas ruas e visitava orfanatos e asilos para levar carinho a crianças e idosos.

"Eu tinha um amor gigantesco dentro de mim e uma vontade imensa de mudar tudo o que estava a minha volta, mas não sabia o que fazer com isso", lembra Cybele.

Combinava essas atividades com outras de suas paixões -o grupo de teatro da juventude espírita, as aulas de balé clássico e dança contemporânea e a leitura.

Aos 17 anos, mais uma atividade entrou para sua agenda. A jovem havia sido aprovada no vestibular para a faculdade de pedagogia.

Foi logo no fim do curso que vivenciou sua segunda grande transformação -durante o Carnaval.

Decidida a fugir da folia da capital baiana, foi para a Chapada Diamantina, no interior do Estado. Lá, na vila de Caeté-Açu, no Vale do Capão, distrito de Palmeiras, encontrou não apenas a paz, mas sua missão de vida.

"Na hora em que entrei em uma escola pública, fiquei em choque", diz ela, sobre a precariedade das condições do local. Na volta a Salvador, chorou o caminho inteiro.

FORA DA CAIXA

A experiência foi tão marcante que, uma semana depois, quando o governo do Estado abriu concurso público para a contratação de professores na Chapada Diamantina, ela se inscreveu.

Quando foi aprovada, aos 21 anos, mudou-se para Caeté-Açu levando consigo apenas uma mala de roupas e três caixas de livros, arrecadados em uma campanha que mobilizou em Salvador.

Determinada a que os alunos aprendessem a ler e a escrever, começou como professora de língua portuguesa, mesmo se sentindo ainda despreparada.

Com a escassez de recursos -a escola não tinha nem papel sulfite-, transgrediu o currículo e levou as crianças para aprender fora da sala de aula. "Elas têm que ser menos passivas e mais ativas na aprendizagem", diz Cybele.

A mudança para a Chapada Diamantina também alterou sua vida pessoal.

Ao chegar, ficou doente e foi consultar-se com o único médico da vila do Capão, o naturologista Aureo Augusto Caribé de Azevedo, 59. Casaram-se e ela assumiu como seus os dois filhos dele.

"Não é que eu não queria ter filhos, eu não pensava nisso. Quero cuidar de quem já está no mundo."

Para isso, foi aprimorar-se. Fez pós-graduação em psicopedagogia e, em paralelo ao trabalho na escola, atendia voluntariamente crianças com dificuldade de aprender.

O fim dos anos 1990 foi intenso. Nesse período, com a Associação de Pais, Educadores e Agricultores de Caeté-Açu, iniciou um programa de auxílio a professores. Também criou, com 12 secretários municipais de educação e associações de moradores locais, o Projeto Chapada.

Em 2005, fundou o Icep (Instituto Chapada de Educação e Pesquisa), que contribui para a melhoria da qualidade da educação por meio do apoio à formação continuada de educadores e gestores educacionais, bem como da criação e da mobilização de redes colaborativas.

Pediu exoneração do funcionalismo público, assumiu a diretoria do instituto e ingressou no mestrado em desenvolvimento e gestão social na UFBA (Universidade Federal da Bahia).

DOCE GENERAL

Nesse tempo, perdeu 12 quilos por causa das madrugadas dedicadas ao estudo e às viagens nos fins de semana para o curso em Salvador.

Hoje, são 20 os municípios da região integrados ao Icep. "Precisamos acreditar que as pessoas são capazes de transformar sua realidade e de conquistar autonomia."

Nos raros momentos em que não está trabalhando, Cybele ouve música clássica e dança sozinha em casa.

"Fico doente quando tem algum feriado prolongado. Trabalho de domingo a domingo." Não é à toa que ganhou na Chapada o apelido de "doce general".

IMPACTO SOCIAL

Promove a formação de leitores e escritores autônomos no ensino fundamental 1, beneficiando hoje 72.186 alunos e 4.204 profissionais da educação na Bahia e em Pernambuco; em 13 anos de atuação, impactou a vida de 157.130 pessoas

SUSTENTABILIDADE

Com um orçamento anual (2012) de R$ 2,6 milhões, o Instituto Chapada tem 35 colaboradores, a maioria formadores pedagógicos. Dos finalistas deste ano, tem a menor diferença na relação entre o maior e o menor salários (2,6)

INOVAÇÃO

Seu projeto é a gênese do que o MEC (Ministério da Educação) chama hoje de ADEs (Arranjos de Desenvolvimento da Educação): ferramentas de gestão pública com trabalho em rede para estimular a colaboração entre prefeituras na oferta de educação de qualidade

POLÍTICAS PÚBLICAS

É o cerne do trabalho do instituto. O melhor exemplo é a campanha desenvolvida em anos leitorais, na qual é pactuado, em sessão solene com os candidatos à prefeitura, um documento público com as propostas de educadores, pais e representantes da comunidade para a melhoria da qualidade

"Em cinco anos, vejo-me à frente da principal instituição de formação de professores do país. Em dez anos, vejo-me à frente da principal instituição de formação de professores do mundo"

CYBELE OLIVEIRA, Empreeendedora Social 2012 da educação municipal


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