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O NOVO PAPA

Fiéis recebem papa jesuíta e sul-americano com surpresa

Francisco terá de lidar com perda de católicos e escândalos de pedofilia

Discreto, Bergoglio sempre recusou cargos na Cúria; ele deve se encontrar em breve com antecessor, Bento 16

BERNARDO MELLO FRANCO FELIPE SELIGMAN FABIANO MAISONNAVE ENVIADOS ESPECIAIS A ROMA

Num conclave que durou menos de 26 horas e surpreendeu todo o mundo, a Igreja Católica elegeu ontem o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, 76, para ser o seu 266º papa.

Arcebispo de Buenos Aires, ele adotou o nome inédito de Francisco, mas sem um numeral -ele só será "Francisco 1º" se houver um segundo.

Será o primeiro latino-americano e o primeiro jesuíta a liderar os católicos em mais de 2.000 anos de história.

Em suas primeiras palavras, no balcão da Basílica de São Pedro, o novo papa pediu que os fiéis rezem por ele e disse que os cardeais foram buscá-lo quase no "fim do mundo" para comandar a igreja.

"Vós sabeis que o dever do conclave era dar um bispo a Roma. Parece que os meus irmãos cardeais foram quase ao fim do mundo buscá-lo." Durante o discurso, ficou a seu lado o brasileiro Cláudio Hummes, o que sugere proximidade com o novo papa.

O novo pontífice pediu orações pelo papa emérito Bento 16, que anunciou sua renúncia em 11 de fevereiro. Os dois conversaram por telefone ontem à noite.

Bergoglio não aparecia nas listas de favoritos para a sucessão papal. Depois de cinco votações, ultrapassou os 77 votos, ou seja, ganhou apoio de ao menos dois terços dos 115 cardeais que participaram da eleição secreta.

Ele teria sido o segundo colocado no último conclave, de 2005. No fim dessa disputa, teria dito aos colegas que não se sentia pronto para o pontificado, abrindo caminho para a escolha do cardeal alemão Joseph Ratzinger.

O papa Francisco assumirá uma igreja em crise, que sofre com a perda de fiéis e tenta recuperar sua imagem, manchada por disputas de poder e escândalos de pedofilia e corrupção.

Discreto, ele sempre recusou cargos na Cúria Romana e só ia ao Vaticano quando necessário. Essas características o credenciam como um possível reformador, que poderá mudar os rumos da igreja e desalojar seu status quo.

O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, classificou a escolha como uma resposta "radical" a "especulações" sobre a guerra entre alas da igreja.

Segundo um porta-voz do Vaticano, ele homenageou são Francisco de Assis com a escolha, mas pode ter sido também referência a são Francisco Xavier, um dos fundadores da ordem jesuíta.

Até ontem, os mais cotados para a eleição eram o italiano Angelo Scola, visto como reformador, e o brasileiro Odilo Scherer, apontado como o candidato da Cúria. A notícia frustrou a torcida por d. Odilo entre os brasileiros na praça de São Pedro.

Hoje, Bergoglio reza missa com os cardeais na Capela Sistina. No sábado, dará uma entrevista coletiva e no dia seguinte, a primeira bênção dominical, o "Angelus".

Na terça-feira haverá a missa inaugural do papado.

FUMAÇA BRANCA

Quando a fumaça branca começou a sair da chaminé da Capela Sistina, às 19h06 (15h06 em Brasília), a praça de São Pedro parecia um mar de guarda-chuvas.

Os fiéis enfrentavam mau tempo desde o início da manhã e já haviam visto a fumaça preta às 11h38.

Quando a fumaça clara foi avistada, a alegria tomou o ambiente. Fiéis e curiosos se abraçavam e gritavam, em italiano: "Viva il papa!". Uma correria começou em direção à basílica. O povo queria chegar o mais perto possível para ver o cardeal, ainda desconhecido, que em minutos passaria a chefiar a igreja.

Por volta das 20h10, o cardeal francês Jean-Louis Tauran apareceu no balcão e pronunciou as duas palavras mágicas: "Habemus papam!" (temos um papa, em latim).

Bandeiras de todos os países tremulavam. Dezenas de brasileiras, pouquíssimas argentinas. Quando o nome de Bergoglio foi anunciado, muitos fiéis silenciaram.

Uma exceção foi o padre argentino Sebastián Vivas, 31, que esperava o anúncio a poucos metros da grade. "No lo creo, no lo creo!", repetia, atônito. "Bergoglio fez muitas reformas, levou a igreja para a favela. Mas é ele mesmo? Ai, meu Deus!", disse à reportagem, emocionado.

Era ele mesmo. E os fiéis argentinos, pouco a pouco, apareceram.

"Moro em Roma há 20 anos e só vim por casualidade, nunca imaginei que seria um argentino", disse o arquiteto Marcelo Rossi, 47, com bandeirinha do país.

"Ele é muito sério, humilde, pacificador. Tudo o que a igreja precisa", emendou Juliana Gargiulo, estudante de relações internacionais.

Um grupo em volta dela começou a gritar: "Argentina, Argentina!". Rapidamente, brasileiros se uniram à festa.

"Somos todos latino-americanos", disse o padre Wagner de Souza, abraçando os vizinhos.

"Não estou frustrado, estou feliz. O Brasil terá uma grande importância."


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