|
|
HISTÓRIA
No Brasil, o trabalho assistencial sempre esteve atrelado
a políticas do Estado e à ação social da Igreja
O
longo caminho da religião até o neoliberalismo
CESAR ROBERTO JUNIOR
da Equipe de Trainees
O trabalho voluntário existe no Brasil há cinco séculos.
Pesquisadores apontam como marco inicial dessa atividade a fundação
da Santa Casa de Misericórdia na então vila de Santos, capitania
de São Vicente, em 1543.
César
Itiberê - 16.mar.97/Folha Imagem
|
|
A
primeira-dama Ruth Cardoso, presidente da Comunidade Solidária,
entidade ligada ao governo e que substituiu a Legião Brasileira
de Assistência, criada em 1942
por Getúlio Vargas |
Nos séculos 17 e 18, a maioria das entidades filantrópicas
das quais se tem documentos era ligada à Igreja Católica.
A presença do Estado só passou a ser considerada significativa
a partir de 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder e implantou
uma política centralizadora do Estado, que passou a ser o maior
destinador de recursos à área social, diz Luiz Carlos Merege,
coordenador do Cets (Centro de Estudos do Terceiro Setor) da Fundação
Getúlio Vargas.
Em 1942, durante a ditadura varguista, esse processo de fortalecimento
do Estado deu origem à LBA (Legião Brasileira de Assistência),
criada para coordenar a política de assistência social.
A instituição trouxe consigo a figura da primeira-dama como
mãe dos pobres do país: por estatuto, a direção
da LBA era sempre ocupada pela mulher do presidente da República.
Para a professora da Faculdade de Serviço Social da PUC-SP e vereadora
do PT-SP, Aldaíza Sposati, o Estado, no controle do voluntariado,
teria provado ser ineficiente e estaria sempre ligado a interesses particulares.
MENOS RECURSOS
A partir de 1964, o modo de atuação do Estado na área
social sofreu uma mudança, segundo Luiz Carlos Merege.
O governo passou a destinar verba proporcionalmente maior para financiar
organizações privadas (hospitais, escolas etc.), em detrimento
das instituições sem fins lucrativos.
Esse refluxo, somado à crise econômica que começa
no final dos anos 70 e à hegemonia do neoliberalismo,
na década de 90, fez com que as entidades tivessem que procurar
outras formas de financiamento, afirma o coordenador do Cets.
Também nesse período, diz ele, houve uma expansão
internacional das organizações não-governamentais,
que ocupam os vazios deixados pela retração estatal.
As instituições começaram a buscar parcerias com
governo e empresários. Surgiria então iniciativas integradas,
como a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela
Vida (leia texto abaixo).
Em 1995, já no governo FHC, é criado o Comunidade Solidária,
para substituir a extinta LBA. Segundo Augusto de Franco, conselheiro
da instituição, o objetivo principal da entidade é
viabilizar parcerias com outras instituições.
|