São Paulo, sábado, 18 de setembro de 1999


 


Betinho combateu a miséria

da Equipe de Trainees

Criador da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, o sociólogo Herbert de Souza (1935-1997), o Betinho, foi uma das principais lideranças de uma nova corrente de trabalho solidário: a de instituições que não dependem do Estado e buscam em parcerias com o setor privado recursos para manter suas atividades.

Patrícia Santos-22.nov.95/Folha Imagem
O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, segura a estampa de uma camiseta que usou durante passeata no Rio de Janeiro; ele criou a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, que teve início em 1993 e ainda hoje distribui alimentos a famílias carentes


A campanha do Betinho, como ficou conhecida, começou em 1993 com o objetivo de combater a fome. Em sete meses já havia cerca de 3.000 comitês espalhados pelo Brasil.
Na mesma época, 30 mil voluntários estavam engajados na campanha, que tinha arrecadado até então 500 mil toneladas de alimento para serem distribuídos.
“O Betinho dizia que quem tem fome tem pressa”, lembra Maria Nakano, viúva do sociólogo, que era portador do vírus da Aids _contraído em uma das transfusões de sangue a que ele se submeteu por ser hemofílico.

CONSCIÊNCIA
Para Nakano, que é coordenadora de comunicação social do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), o legado de Betinho é ter lançado sementes na consciência da população em relação à cultura do voluntariado, que “ainda precisa ser criada no Brasil”.
Ela ressalta que algumas iniciativas da campanha ganharam vida própria e passaram a fazer parte da rotina do brasileiro, como a troca de um quilo de alimento não-perecível por ingressos em diferentes eventos.
Betinho foi um dos fundadores do Ibase, criado em 1980 para pesquisar dados sobre a sociedade brasileira. Nos anos 90, o instituto se tornaria um dos articuladores da Ação da Cidadania.
Em 1994, Betinho esteve cotado para receber o Prêmio Nobel da Paz, pela sua campanha. Não foi escolhido, mas chamou ainda mais atenção para o trabalho que desenvolvia desde a década de 80, quando voltou do exílio.
Embora não tenha participado da luta armada, o sociólogo teve que sair do país por manifestar-se contra o regime militar. A letra da canção “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, adotada como hino do movimento pela anistia, se refere a ele quando fala da “volta do irmão do Henfil”. (CRJ)


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