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Procura-se doador de
trabalho especializado
BEL MOHERDAUI
da Equipe de Trainees
Não basta
apenas doar o que quiser, quando puder. Entidades beneficentes valorizam
cada vez mais as pessoas que utilizam sua especialização
profissional no trabalho voluntário e que levem essa atuação
a sério, com mais responsabilidade _até com dias e horários
fixos para a doação.
Essa tendência foi observada por 14 pesquisadores e profissionais
da área ouvidos pela Folha.
As instituições buscam o médico que seja voluntário
do ambulatório, o administrador que ajude na gestão, o diretor
de marketing que divulgue a entidade.
É muito desperdício trazer uma pessoa que tem uma
habilidade específica, por exemplo, na área contábil,
para ser o Papai Noel da festa de final de ano, afirma Mário
Aquino Alves, pesquisador do Centro de Estudos do Terceiro Setor da FGV,
embora ele mesmo se passe por Papai Noel no Natal. Você tem
que chamar essa pessoa para arrumar o livro-caixa da entidade.
Segundo Alves, o indivíduo que utiliza sua capacidade profissional
no trabalho voluntário pode ser mais bem aproveitado do que o que
faz tudo, porque estará doando aquilo que faz melhor.
Outra vantagem de aproveitar o voluntário profissional é
evitar a alta rotatividade na instituição. Fazendo o que
sabe, ele se envolve mais e colabora por mais tempo.
Além disso, de acordo com o pesquisador, o voluntário tem
na instituição uma possibilidade de aperfeiçoamento
profissional.
O trabalho que ele faz na organização serve de treinamento
para desenvolver habilidades que o ajudem a arranjar emprego.
Em algumas entidades, como a Associação Monte Azul, que
faz trabalhos de educação, saúde e cultura com comunidades
carentes, o voluntário pode vir a ser um funcionário remunerado.
Quando o trabalho dá muito certo e a gente precisa muito
daquele profissional, acabamos contratando o voluntário para que
ele fique aqui por mais tempo, diz Lia Lima, 37, coordenadora do
voluntariado da associação.
É o caso de Aureliane Lira, 35, responsável pela área
de crianças especiais, que ficou um mês e meio na instituição
como voluntária e acabou sendo contratada.
COMPROMISSO
Há mais uma mudança que atinge os voluntários: a
cobrança, cada vez mais frequente, de um comprometimento maior
com a instituição. De acordo com as necessidades da organização,
o voluntário deve ter uma função, estabelecer uma
rotina e cumpri-la.
Na AACD (Associação de Assistência à Criança
Defeituosa), a responsabilidade do voluntário é levada tão
a sério que ele assina livro de ponto todos os dias em que comparece
à entidade (leia texto ao lado). Se tiver quatro faltas consecutivas
ou oito alternadas, sem justificativa, pode ser dispensado do voluntariado.
O conceito de voluntário está se diversificando. Agora,
há o profissional de alto nível que doa duas ou três
horas por semana e capacita as pessoas da entidade. É o voluntário
que as instituições não poderiam pagar, diz
Rosa Maria Fisher, do centro de estudos de terceiro setor da USP.
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