Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Esporte

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Portas fechadas

No mundo sem fronteiras do futebol, técnicos brasileiros estão fora do mercado europeu, enquanto estrangeiros não têm lugar na elite do Brasil

(MARTÍN FERNANDEZ) DE SÃO PAULO

O Botafogo, que lidera o Campeonato Brasileiro, tem um camisa 10 holandês, Seedorf, vindo de um clube italiano, Milan, onde jogava com um zagueiro brasileiro, Thiago Silva, hoje capitão de um time francês, PSG, mantido por magnatas do Qatar.

No mundo quase sem fronteiras do futebol contemporâneo, há dois caminhos fechados: técnicos estrangeiros não trabalham nos principais clubes do Brasil; técnicos brasileiros não trabalham na elite da Europa.

Na última quarta-feira, Barcelona e Atlético de Madri decidiam a Supercopa da Espanha. A dirigir craques como Messi, Neymar e David Villa, nos bancos de reservas estavam dois argentinos: Tata Martino, do time da Catalunha, e Diego Simeone, da equipe da capital espanhola.

O Real Madrid é treinado por um italiano, o Manchester City por um chileno, o Tottenham por um português.

Os estrangeiros só não encontram lugar no Brasil --os últimos foram os uruguaios Juan Carrasco e Jorge Fossati, de passagens curtas por Atlético-PR e Internacional.

Não é uma coincidência.

A Folha ouviu técnicos, cartolas, agentes e jogadores sobre a falta de intercâmbio.

Odílio Rodrigues, presidente interino do Santos, clube que tentou contratar Marcelo Bielsa e Tata Martino, põe o dedo na ferida.

"Sempre nos sentimos soberbos em relação a futebol. Estamos atrasados em filosofia de jogo, treinamento, tecnologia", diz. "A excelência está lá fora, não no Brasil."

Luiz Felipe Scolari discorda com veemência. "Todo técnico brasileiro lê sobre tática, se atualiza", afirma.

Na última segunda, foi lançada em São Paulo a Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol, cujas bandeiras são "respeito aos contratos" e "estabilidade".

Vagner Mancini, do Atlético-PR, idealizador da federação, aponta a falta de regulamentação do mercado como problema a ser combatido.

"Hoje qualquer um pode ser técnico no Brasil. Não há necessidade de curso específico, não há uma prova", diz. "Na Europa, se você não estudou, não pode trabalhar."

Também por isso, o profissional brasileiro é visto com desconfiança. "Há mais chilenos e argentinos aqui. O Brasil está isolado, falta comunicação", diz Jorge Baidek, ex-jogador do Grêmio, hoje empresário em Portugal.

Rodrigo Caetano, diretor-executivo de futebol do Fluminense, vê no idioma uma barreira intransponível.

"Pagamos por ser o único país da América do Sul que fala português. Isso atrapalha nas duas vias", sustenta. "No Oriente Médio, por exemplo, trabalha-se com intérprete. Num clube de ponta da Europa, isso é um empecilho."

Para Carlos Leite, agente de Mano Menezes, ex-técnico da seleção e hoje no Flamengo, o dinheiro que circula no futebol brasileiro ajuda a explicar o fenômeno.

"Os times grandes do Brasil pagam bem. Na Espanha, só Real Madrid e Barcelona pagam mais", diz. "É pouco convidativo sair daqui para um pequeno ou médio de lá e depois tentar um grande."

Jorge Fossati foi o último estrangeiro com algum sucesso no Brasil --foi demitido do Inter quando estava na semi da Libertadores-2010. "Senti certa hostilidade de parte da torcida e da imprensa, mas não sei dizer se era por ser estrangeiro", diz ele de Abu Dhabi, onde treina o Al-Ain.

Para Fossati, faltam dirigentes que banquem seus treinadores. "Estrangeiro só vem com contrato seguro, muito amarrado", concorda Marco Aurélio Cunha, ex-dirigente do São Paulo.

Bielsa pediu alto para ser contratado pelo Santos. "Os dirigentes daqui têm medo de ousar", lamenta Cunha.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página