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N° 1

Leônidas da Silva, que faria 100 anos, não foi só o maior jogador brasileiro antes de Pelé; foi o primeiro a ganhar com o marketing fora de campo

RAFAEL REIS DE SÃO PAULO

Uma fábrica de chocolate aproveita o barulho em torno da Copa do Mundo e procura o maior jogador da seleção brasileira para lançar um produto baseado nele.

O episódio não causaria nenhuma surpresa se tivesse acontecido nas últimas décadas e o protagonista fosse Romário, Ronaldo, Neymar ou Ronaldinho, hábeis em faturar com o marketing.

Mas a negociação acima descrita aconteceu seis décadas antes de Ronaldinho se lançar como jogador profissional. O ano era 1938.

Leônidas da Silva, que completaria cem anos nesta sexta, dia 6 de setembro, não foi só o principal jogador do país na era pré-Pelé. Foi ainda o primeiro brasileiro artilheiro de Copa. E o responsável por popularizar os gols de bicicleta. Acabou?

Não. Leônidas da Silva também se destacou por ser o precursor do marketing no futebol brasileiro.

O lançamento do chocolate Diamante Negro, na esteira dos sete gols que levaram a seleção à primeira boa campanha em Copas (terceiro lugar em 1938), abriu as portas para que o atacante lucrasse também com sua imagem.

Para ceder de forma definitiva o apelido pelo qual era conhecido à Lacta, Leônidas recebeu 2 contos de réis (menos de R$ 2.000 atuais).

Muito pouco: 0,005% dos cerca de R$ 38 milhões que Neymar ganhou na temporada 2012/13 só de patrocinadores. Ou, por outro lado, bastante: Leônidas não sabia que poderia transformar sua marca em dinheiro.

Até então, fazia propaganda de graça --ou em troca de goiabada-- para as empresas dos amigos, como conta o biógrafo André Ribeiro. Foi o jornalista José Maria Scassa quem o convenceu de que poderia ganhar dinheiro com publicidade.

"Ele foi o primeiro jogador a ter um assessor de imprensa ou gestor de imagem", afirma Ribeiro.

O encontro com Scassa rendeu. A partir daí, Lêonidas faturou como marca de relógio. E, acredite, foi nome de cigarro (veja reprodução de cartaz abaixo, à direita).

HOJE COMO ONTEM

No ano passado, desempenhos decepcionantes de Neymar no Santos eram logo associados ao excesso de compromissos de publicidade.

Volte sete décadas.

A agenda cheia fora de campo levou Leônidas ao embate com o Flamengo.

Em 1941, Leônidas se recusou a viajar para excursão na Argentina alegando que estava machucado. O clube, que receberia cachê menor sem o astro, obrigou-o a jogar.

Não sem antes acusá-lo de fazer corpo mole porque queria ficar no Brasil para atuar em campanhas publicitárias.

"O Flamengo não aceitou e pressionou para que ele fosse preso por uma acusação velha, fraude no certificado de reservista", diz Ribeiro.

Leônidas acabou na cadeia, e seu vínculo com o time foi parar na Justiça. Não adiantou. O Flamengo seguiu como dono do seu passe.

A rescisão só veio em 1942, quando o São Paulo bancou a até então maior transferência do futebol brasileiro (200 contos, ou R$ 196 mil corrigidos) pelo centroavante.

O último clube de Leônidas --que antes do Flamengo havia passado por Vasco, Botafogo e Peñarol, entre outros-- foi totalmente transformado pelo Diamante Negro.

Com ele, o São Paulo levou seu primeiro título paulista (1943) e faturou mais quatro Estaduais. O clube, aliás, nunca deixou de ganhar com o seu Diamante Negro.

Leônidas inspirou a linha atual de uniformes retrô e, anos atrás, cedeu nome para um modelo de bicicletas vendido na loja são-paulina.

O atacante deixou o futebol aos 37 anos, após ficar fora da convocação para a Copa 50, que seria a terceira de sua carreira. Aposentado, foi técnico do São Paulo e funcionário público. Também de forma pioneira entre os ex-jogadores, tornou-se comentarista de futebol, primeiro no rádio, depois na televisão.

Só deixou a carreira na década de 1970, em decorrência do mal de Alzheimer. Morreu em 2004, com 90 anos, em uma clínica para idosos.

Embora seu tratamento tenha sido pago por um benfeitor encontrado pelo São Paulo, Leônidas não acabou na miséria, como conta Albertina Pereira dos Santos, 85, amante de Leônidas por quase meio século e hoje responsável pelo legado dele.

"Leônidas sempre teve algum dinheiro porque era econômico", lembra ela.

O Diamante Negro sabia negociar.

Leia depoimentos de grandes jogadores sobre Leônidas e poema da amante em homenagem a ele em folha.com/esporte


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