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Fábio Seixas

Acertos e erros

"Rush" é um baita filme sobre automobilismo, mas exagera sobre rivalidade entre os protagonistas

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, já dizia o filósofo.

Pauta obrigatória no automobilismo, nos últimos e nos próximos dias, é "Rush". Dirigido por Ron Howard, um apaixonado por F-1, e com lançamento no Brasil previsto para o dia 13, o filme conta a história do Mundial de 76.

Ao apotegma lá do começo, pois.

Uma coisa é o roteiro naturalmente cinematográfico daquela temporada. O drama de Lauda, com direito a ressurreição. O apogeu de Hunt, com direito a 33 aeromoças revezando-se em sua suíte em Tóquio, às vésperas da decisão. E o desfecho épico, o austríaco abandonando a corrida no temporal de Fuji para evitar morrer pela segunda vez.

Emocionante, histórico, belo, cheio de simbolismos. Ponto.

Outra coisa é chamar esta de "a maior rivalidade da F-1" ou ilusão semelhante. Não, não foi.

A começar porque Lauda sempre foi muito mais piloto do que Hunt. Até o acidente em Nurburgring, tinha mais do que o dobro dos pontos do rival (61 a 30). Levaria o título facilmente, com enorme antecedência, não fosse sua quase-morte.

Mais: foi uma rivalidade que se refletiu em luta pelo campeonato só naquele ano. Em 77, Lauda foi bicampeão, e Hunt ficou apenas em quinto. Em 78, Andretti foi o campeão, com Lauda em quarto, e Hunt em 13º. Em 79, Hunt e Lauda pararam --o austríaco voltaria nos anos 80, para mais quatro temporadas e um título.

Por fim, o clima não era tão péssimo como Howard pinta. Havia uma camaradagem sacana entre ambos, a cara daqueles anos 70 na F-1.

Nada parecido com Senna x Prost. Estes, sim, se detestavam. Estes decidiram títulos jogando o carro um contra o outro. Estes agiam nos bastidores para aniquilar o adversário.

Escancararam a rixa em Imola-1989 e levaram-na até o fim. Literalmente.

Em última análise, foi a rivalidade que matou Senna. Sim, porque ele se transferiu para a Williams, em 94, louco para repetir a façanha do francês no ano anterior. Se aquele carro do outro mundo deu sete vitórias para Prost em 93, imaginem quantas ele não conseguiria? Deu no que deu.

Noves fora essa estratégia comercial de "o maior duelo" da F-1, "Rush" é um baita filme. O melhor sobre automobilismo desde "Le Mans", o segundo melhor de todos os tempos, atrás apenas de "Grand Prix". Reconstituições cuidadosas, cenas de arrepiar.

Quem sabe um dia alguém se anima e filma Senna x Prost?

(Não, o documentário "Senna", de 2010, não vale. É maniqueísta ao extremo, pinta o brasileiro como um santo. Mas talvez sejam necessárias algumas décadas até cair a ficha de que ele era humano, cheio de erros. Como você e eu.)

fseixasf1@gmail.com


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