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Esporte

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Juca Kfouri

Espírito esportivo

O que acontece no campo do esporte não pode ser tratado somente sob a ótica do Direito

É JUSTO condenar uma coletividade pelo erro de um indivíduo?

Parece óbvio que não.

É justo punir um clube visitante pelo que aconteceu na casa do adversário?

Também não.

Ainda mais se os cuidados básicos não foram tomados e foi permitida a entrada de artefatos que põem em risco os torcedores.

Havia, por sinal, mais sinalizadores na torcida do San José do que na do Corinthians.

Faz sentido um jogo de futebol sem torcida?

Não, não faz nenhum sentido.

Mas, então, o que fazer?

São tantas nuances, tantas atenuantes que, se levadas todas em consideração, num efeito cascata, ninguém acaba punido, porque as responsabilidades vão sendo jogadas de uns para os outros sempre com algum fundamento.

Por mais que horrorize os juristas, punições esportivas devem se preocupar mais em ser exemplares do que justas.

Porque a impunidade no futebol brasileiro encontra boa parte de sua explicação na transferência automática dos princípios do Direito para o campo do esporte.

E, ao se esgotarem as instâncias, as punições muitas vezes não fazem mais sentido, caducaram, ou porque a competição terminou ou porque quem deu causa à questão não está mais onde estava e as condenações se transformam no bálsamo das cestas básicas.

Para ficar no âmbito da anedótica Conmebol com seu presidente vitalício, depois de punir corretamente o Corinthians e o São Paulo, não se fala em punir exemplarmente também o San José pelos objetos atirados nos corintianos enquanto os jogadores se aqueciam, além dos sinalizadores.

Ou o Millonarios pela pilha que atingiu um bandeirinha, naquela mesma noite da morte do menino boliviano.

A Justiça esportiva deve levar em conta o espírito esportivo, aquilo que se chama em inglês de "fair play".

Não há como negar a responsabilidade objetiva do clube em relação aos seus torcedores, principalmente os uniformizados, que gozam de privilégios, por mais que se negue.

Gozam porque os atemorizam as direções, e enquanto houver esta convivência promíscua não restará outra atitude que não a de punir também os clubes.

É irônico constatar que depois que aqui se propôs ao Corinthians, moralmente fortalecido pela conquista dos títulos da Libertadores e do Mundial, que exigisse condutas mais civilizadas no torneio continental, sob pena de não disputá-lo, esteja o clube, enfraquecido pela selvagem tragédia, na situação em que está.

Os jogadores corintianos não têm culpa de nada (ao contrário, foram mais uma vez vítimas da desumanidade de jogar futebol a 3.700 metros de altitude), a esmagadora maioria de seus torcedores também não têm, mas, e sempre existe um mas, a punição foi exemplar. Ponto.

Quem sabe sirva para que o processo civilizatório deste torneio chinfrim comece pelo Brasil.

Sem ironia, o Corinthians será mais uma vez pioneiro.


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