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Churchill se declara à pintura em ensaio

Em "Pintar como Passatempo", estadista britânico conta como se apaixonou pela arte, "a perfeita distração"

Edição brasileira une texto, escrito em 1932, com reprodução de 18 quadros a óleo feitos pelo líder político

CASSIANO ELEK MACHADO DE SÃO PAULO

Num domingo de maio de 1915, em plena Primeira Guerra Mundial, Winston Churchill (1874-1965) recebeu uma visita inesperada. "A Musa da Pintura veio em meu socorro", escreveu anos mais tarde o estadista britânico.

Ele enfrentava tempos difíceis em sua já brilhante carreira política e militar quando, em meio às "longas horas de ócio absolutamente indesejado", encontrou "a caixa de tintas das crianças".

Ficou tão entusiasmado com o brinquedo que comprou um kit completo de pintura e, com cavalete, tinta, pincéis, telas e --supõe-se-- charutos, foi ao campo botar a mão na massa.

Nem bem começou a pintar o céu azulado e as nuvens em feijãozinho, o artista autodidata foi tomado por uma epifania, como conta em um texto dos anos 1930, recém-publicado no Brasil.

"As tintas são cativantes de olhar, deliciosas de espremer. Combiná-las, mesmo cruamente, com aquilo que você vê, é fascinante e absolutamente absorvedor", escreveu Churchill no livro "Pintar como Passatempo", lançamento da editora Odisseia.

Seu ensaio, de fôlego curto, é uma ode, arrebatada, ao ato de pintar. Exemplo? "A pintura é perfeita como distração. Não sei de outra coisa que, sem fatigar o corpo, possa absorver a mente de forma mais completa." Exemplo mais agudo? "Quando eu chegar ao céu, pretendo passar uma parte considerável do meu primeiro milhão de anos pintando..."

Ainda que o texto do livro seja de 1932, as imagens reproduzidas por ele evidenciam que não foi uma paixão temporária. Entre as 18 pinturas, coloridas, diversas delas são de setembro de 1945, poucos meses após o final da Segunda Guerra Mundial.

Há ao menos um episódio histórico, relatado nas memórias de Churchill, em que o britânico exerceu seus dons artísticos durante o conflito.

Em seu primeiro encontro com Josef Stálin (1879-1953), em Moscou, em agosto de 1942, o clima entre eles não era dos melhores --a mulher de Churchill, Clementine, se referiu à visita como "o encontro com o ogro no covil".

Para ajudar a quebrar o clima, o estadista britânico desenhou um belo crocodilo e explicou sua estratégia para o norte da África: "Vamos atacar a barriga do bicho, ao mesmo tempo em que batemos no seu focinho duro". Stálin respondeu com um "Deus abençoe este projeto".

Em "Pintar como Passatempo", não há espaço para Stálin nem outras figuras do universo político da época. Churchill limita-se a citar pintores, com destaque para o paisagista inglês William Turner (1775-1851), a quem declara grande admiração.

Mas o brilhante estrategista militar não deixaria, ao tratar da "neopaixão" pela pintura, de evocar seu duradouro amor pela arte da guerra.

"Tentar pintar um quadro é, penso eu, como participar de uma batalha. É mais excitante lutar do que terminar bem", expressa.

Com todo o respeito a sir Winston Churchill, a julgar pelas suas pinturas, ou por seu pensamento analítico sobre a arte, sua observação lhe cai bem. "Pintar como Passatempo" é uma obra de amor: e quem ama é amador.


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