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Crítica - Drama

Diretor investiga com solidez os impasses da geração de 68

DO CRÍTICO DA FOLHA

Enquanto Cannes se dedica a cultivar a morte (verbetes conexos: Palma de Ouro, Haneke, "Amor", eutanásia), Olivier Assayas continua a criar uma obra tão sólida quanto vital.

Filme após filme, Assayas vai esquadrinhando seu país, sua geração, a Europa, seu passado um tanto sufocante, a decadência.

Agora é "Depois de Maio". Falamos do Maio de 68, claro. O mais enigmático acontecimento mundial do pós-guerra. O que terá sido?

Pensava-se que era o começo de uma nova era, o nascimento de uma esquerda não autoritária. Mas hoje parece ter sido o canto do cisne do pensamento de esquerda. Talvez tudo isso já não importe tanto, a não ser pelo enigma.

Fiquemos, portanto, com o essencial. Logo de cara, o enfrentamento entre um grupo de estudantes parisienses (colegiais, os que o filme acompanha) e o CRS (a temível tropa de choque francesa). Uma filmagem seca, sem espetáculo ou demagogia: exemplar. Uma cena que ninguém esquecerá facilmente.

Outras virão. Mas é preciso não perder o foco do assunto. O amor à revolução vem junto com o amor pelo amor. E o primeiro de Gilles chama-se Laure.

Com ela, chega o movimento beatnik, o poeta americano Gregory Corso. A Europa troca com a América (recebe o melhor dos EUA, retribui-lhe com as armas para as revoltas já nascentes na sociedade americana).

Depois de Laure vem Christine, a engajada. Do anarquismo transita-se à batalha junto aos operários. Enquanto isso, em Paris ou na Itália, a cada vez o movimento político se radicaliza.

O grupo inicial de amigos, gente do liceu, precisa crescer. E crescer significa tomar decisões individuais. E por mais coletivistas que sejamos, não há solução, o caminho é sempre pessoal.

Para resumir, Olivier Assayas faz a pergunta que vem relançando desde seus primeiros filmes: afinal quem somos nós (Europa, França)? E para onde vamos?

A pergunta diz respeito também, certamente, à sua geração, a de Maio e "depois de Maio" (ele nasceu em 1955).

É desse tipo de inquietação que se faz a solidez de Assayas, que vai construindo, filme após filme, talvez a mais viva e também intransigente obra de um cineasta francês desde a nouvelle vague.


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