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"Eu Cão Eu" mostra lado animal dos homens
Texto escrito e interpretado por Hugo Possolo une Satyros e Parlapatões pela primeira vez
É uma síntese da pluralidade e esquisitice do ser humano. Os quatro personagens de "Eu Cão Eu", espetáculo escrito e interpretado por Hugo Possolo sob direção de Rodolfo García Vázquez, se revezam num mesmo corpo.
Representam diferentes variações da parcela animalesca existente no ser humano. Entre eles está o mais civilizado dos animais, o homem. Também há o cão.
Este surge em momentos raivosos, sempre a mostrar os dentes e latir imoralidades sem culpa.
Na trama, um homem se depara com um vira-lata. Atraído pela liberdade com que o cão percorre a cidade, ele passa a segui-lo. O percurso, que dura alguns dias, o faz refletir sobre a semelhança existente entre ele e o bicho.
A identificação cresce a ponto do personagem encontrar o cão que existe dentro de si. "Não admitimos que somos bichos. Descobrir o lado animal pode nos fazer viver mais profundamente a vida", afirma Possolo.
"Termos raciocínio lógico não altera o fato de sermos tão animais quanto o cão", fala Vázquez. "Muitas vezes o raciocínio só serve para ocultar nosso lado animal", complementa ele, que já havia concebido um esboço do espetáculo "Eu Cão Eu" para as Satyrianas de 2011 ""com o ator Gustavo Machado.
Na ocasião, a encenação se apoiava em vídeos. Para a primeira temporada da obra, o diretor optou pelo essencial. "Queria centrar o foco em texto e interpretação", explica.
Como palhaço Possolo está habituado a imprimir humor e uma boa dose de exagero em sua atuação. Neste seu segundo solo, o exercício é minimizar gestos, caretas e encontrar o drama dos personagens. "Achei interessante não poder me apoiar em elementos que me são seguros. O desconforto me interessa", diz.
"Eu Cão Eu" une pela primeira vez artisticamente Os Satyros e Parlapatões. A aproximação destes importantes grupos da cena teatral de São Paulo foi por muito tempo apenas física.
Os Parlapatões se tornaram vizinhos dos Satyros em 2006, seis anos depois que a companhia de Vázques e Ivam Cabral fixou sede na praça Roosevelt e iniciou a revitalização do local.