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Travesti ativista tem vida contada em filme

Claudia Wonder, que lutou pela liberdade sexual, inspira novo documentário

RICARDO SENRA DE SÃO PAULO

Foi no mítico bar Madame Satã, na Bela Vista, que Claudia Wonder protagonizou seu show mais famoso. Cantando músicas de Lou Reed, imersa numa banheira de groselha, a performer tirava a roupa e encharcava uma eclética plateia de intelectuais, punks, poetas, socialites e góticos. O vermelho que contaminava a todos tinha um propósito: naquela década de 1980, a Aids também chegava ao país.

A trajetória do travesti é o mote de "Meu Amigo Claudia", primeiro longa do paulista Dácio Pinheiro. Premiado como melhor documentário no festival LesGaiCineMad, em Madri, o filme estreia em São Paulo no embalo da 17ª Parada do Orgulho LGBT, no domingo.

Em 2009, uma versão preliminar do filme foi exibida em festivais temáticos como a Berlinale, na Alemanha, e o Mix Brasil, em São Paulo."O material definitivo só foi finalizado em 2012, com apoio da prefeitura", diz o diretor.

Do escritor Caio Fernando Abreu (1948-1996), autor da crônica que dá nome ao longa, Wonder ganhou o apelido de "travesti intelectual".

Ativa na campanha das Diretas, ela pressionou o Ministério da Saúde até conseguir que a classe médica descaracterizasse a homossexualidade como doença.

Em 1985, organizou o primeiro protesto de travestis pela liberdade sexual. "Mas Tancredo Neves morreu na mesma noite e não conseguimos nenhum destaque", diz no filme.

Com depoimentos de Zé Celso Martinez Corrêa, Kid Vinil, Sérgio Mamberti e Glauco Mattoso, o filme mescla registros do underground paulistano, músicas da artista e manchetes do noticiário policial.

O diretor destaca a Operação Tarântula, criada em 1987 pelo prefeito Jânio Quadros. Nos camburões da Polícia Civil, mais de 300 travestis foram tirados das ruas pelo "crime de contágio da Aids".

Na mesma época, Wonder chocava ao aparecer nua na capa de uma revista destinada a homens heterossexuais.

E não era a primeira vez. No filme "Sexo dos Anormais" (1984), de Alfredo Sternheim, fez as primeiras cenas de sexo explícito com transexuais do cinema nacional.

No teatro, participou de mais de dez montagens. Em 2007, três anos antes de morrer por uma infecção pulmonar, estreou o show "Claudia Wonder and the Laptop Boys".

Os créditos de "Meu Amigo Claudia" sobem ao som de "Funkydiscofashion". A voz rouca é indefectível: "Não me chame de madame/ sem saber o que diz/ eu não sou uma dama/ eu sou travesti".


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